Ele nos ensinará Seus Caminhos

25/6/2005

Virão muitos povos e dirão:

“Venham, subamos ao monte do Senhor…

para que Ele nos ensine os seus caminhos,

e assim andemos em suas veredas.”

Isaías 2:3

Ziva sentou-se pensativa em um banco no seu pátio. Ela estava irritada. Olhava criticamente uma sandália que um sapateiro arrumara para ela.

—Será que aquele homem ridículo não consegue fazer nada certo?—resmungou para si mesma.—Ora, na primeira vez que eu uso a sandália, a sola sai…

A memória de Jesus e seu olhar penetrante rompeu seus pensamentos. Ela chacoalhou sua cabeça, tentando apagar a culpa que sentia pela centésima vez desde aquele dia no pátio de Simão.

“Quem é aquele nazareno, que não consigo esquecer suas palavras ou seu rosto?”

Tentando fugir da tempestade dentro de si, ela apanhou seu jarro de água com pressa, colocou-a na anca e saiu na direção do poço. Mas mesmo no caminho, as palavras de Jesus ecoavam na sua mente.

“Ame seus inimigos… amar alguém somente para ser amado em troca é a maneira que todos os homens vivem… o reino de Deus está muito perto, e se não se arrepender vai perder…”

Ziva suspirou e descansou o jarro no muro quando chegou ao poço. “Amor. O que eu sei de amor?” Na sua vida sozinha como viúva, ela se escondia atrás de amargura, de sua fantasia de perfeccionismo e de severidade. Seu irmão era um aleijado, considerado amaldiçoado por Deus. Jessé e sua família, eles eram tudo que tinha. “Então por que trato eles com desprezo? Por que sinto o impulso de destruir tudo de bom que tenho?” Ziva suspirou outra vez.

Enquanto outras mulheres se juntavam no poço para pegar água, Ziva as cumprimentou e abaixou o balde de couro. Uma jovem menina veio correndo, respirando fortemente.

—Jesus voltou! Ele está ensinando no morro!—ela falou ofegante.—Uma multidão já está se juntando!—Com isso, a menina saiu correndo da quadra rapidamente.

O coração de Ziva deu um pulo. E depois pesou. Ela tinha outra chance de ouvir Jesus falar! Mas será que realmente queria isso? As palavras desse homem eram desafiadoras e até ofensivas às vezes. Talvez ela só quisesse ver seus olhos outra vez, ver a bondade fluir deles. De repente, derramou a água em seu jarro, levantou-o na sua cabeça e saiu para sua casa.

Chegando em casa, Ziva derramou a água do seu jarro na cisterna. Sua pressa era tanta que muita água respingou fora, no chão, antes de terminar. Ignorando a molhadeira no seu chão impecável, Ziva se apressou para fora da porta quase sem olhar para trás.

No morro, Ziva parou, enrolando seus dedos no manto. “Por que estou aqui?” Ela reconheceu vários rostos familiares na multidão que se reunia. Se sentiu ficando vermelha ao ser notada por alguns. “O que devem estar pensando!” O sapateiro com quem ela ficara tão brava passou. Uma torrente de indignação a encheu. Ela colocou os ombros para trás e se preparou para soltar uma torrente familiar de seus lábios, mas mordeu sua língua.

No mesmo instante ela ouviu Jesus falar com as pessoas um pouco mas acima no monte. Ela se aproximou delas.

—Deus abençoa aqueles que reconhecem que precisam dEle, pois o Reino dos Céus é dado a eles. Deus abençoa aqueles que são mansos e humildes, pois receberão a terra inteira por herança. Deus abençoa aqueles que são misericordiosos, pois obterão misericórdia. Deus abençoa aqueles que têm um coração puro, pois verão a Deus. Deus abençoa aqueles que trabalham para ter paz, pois serão chamados filhos de Deus.

Cada palavra veio como um golpe para Ziva. “Humildes? Mansos? Com coração puro? Trabalham para ter paz?” Ela sentiu lágrimas começando a brotarem nos olhos. Ela não era nenhum desses. No fundo do coração, sabia que, se fosse colocada na balança da justiça de Deus, como Belsazar no livro de Daniel, seria achada em falta. Lágrimas começaram a se derramar. Ela impacientemente as limpou.

—Ummf!—resmungos de um espectador pegaram sua atenção. O desgosto claro escrito no rosto do velho homem pesou no seu coração.—Bah, paz?! Humildes… que papo furado!—O espanto de Ziva transformou-se em horror ao perceber que se via nesse homem. Estremecendo, ela tentou focar sua mente no que Jesus estava falando agora.

—Deus abençoa aqueles que são perseguidos por andar com Ele, pois o Reino dos Céus é deles. Deus abençoa você se alguém o persegue ou mente sobre você por estar me seguindo.

“Será que eu sou uma perseguidora?” Como uma inundação a lembrança do que dissera a Ashira e a outros sobre André, sobre Simão, sobre Jesus veio; aquelas vezes que tinha zombado em voz alta e dentro de seu coração, aquelas vezes que dissera coisas que sabia não eram verdadeiras. Ah, ela não aguentava ouvir mais! A dor no seu coração era tão forte. Passando bruscamente por outras pessoas ela se apressou para sair. “Talvez possa conversar com meu irmão. Ele teme a Deus. Talvez ele consiga me ajudar.”

Ela desceu o morro correndo cegamente pela cidade, induzida por uma urgência desesperadora. Seu caminho para a casa de Jessé a levaria a passar pelo poço central da cidade. Quando ela se aproximou, notou Ashira pegando água. Ziva recuou com desânimo. Não é com ela que quero falar, pelo menos não agora. Mas se determinou a ir em direção ao poço. Seu coração batia fortemente e sua garganta doía.

—Oi, Ashira.

O rosto de Ashira lutava com angústia—Oi, Ziva.—Sem quase outro olhar, Ashira continuou a pegar água com pressa.

—A-Ashira?…—Ziva tomou coragem.—Eu estava no morro agorinha e Jesus está lá. Seu pai também, e…—Ziva pausou.

Ao mencionar Jesus e seu pai, Ashira deu um suspiro áspero. Água derramou do balde de couro enquanto ela engolia o soluço.

—Está tudo bem, Ashira?—Ziva perguntou, perplexa com o comportamento de Ashira.

—Não!—Ashira disse precipitadamente com voz quebrada mas, se contendo, rapidamente adicionou—Não quero ser desrespeitosa, Ziva.—Ela despejou a água sem jeito no seu jarro.

Ziva se sentiu em pedaços.—Não, querida, tenho certeza que não quis.—Em sua própria agonia, não viu as lágrimas correndo na face de Ashira. Ela sentou-se no banco de pedra perto do poço, tentando expressar para Ashira o que ela ouvira no morro.—Jesus disse sobre ser humilde, gentil, manso, misericordioso. Eu só queria que você soubesse que…

Ashira a interrompeu—Ziva, por favor. Eu não posso ouvir agora. Minha vó está muito doente! Eu preciso voltar para casa com essa água e de pressa!

Ao Ashira levantar sua jarra de água, Ziva viu pânico em seus olhos.—Ashira! Eu sabia que Ana estava doente, mas ela piorou?

—Ela está morrendo, Ziva.—a voz de Ashira estava quebrada com emoção. Sem levantar o olhar, ela virou na direção de casa e ergueu o jarro de água em sua cabeça.

—Posso ajudar?—Ziva chamou por trás dela.

—Não!—Ashira retrucou com a aparente coragem de uma aflição ofuscante. Ela mordeu sua língua. Sabia que tinha falado em um tom muito severo.—Me desculpe, Ziva, não tem nada que pode fazer—engolindo outro soluço, ela se apressou no caminho.

Ziva estava atordoada. Com joelhos fracos, ela estendeu a mão para baixo para sentir a solidez do banco de pedra. Ela sentou-se em desespero total. “O que tenho feito? Será que tenho machucado eles tanto que nem me querem perto na hora de maior necessidade?” Seu próprio coração se partiu por Ana. “E quase não tenho dito uma palavra a ela em anos. Ana, Yahweh, me perdoem! Ó Deus, por favor não deixe Ana morrer. Todo mundo morre eventualmente, mas deve ser agora?”

Ela gemeu enquanto ondas de culpa abalavam seu corpo inteiro. “Eu queria falar para Ashira o que eu ouvi de Jesus, mas ela pensou que vinha repreensão da minha boca pelo jeito que ela falou.” Ziva se afundou em angústia.

Pensamentos continuavam a atormentá-la. “Eu preciso falar com Jessé.” Ela levantou-se do banco. Olhando para o céu, cochichou—Eu preciso de Você, Adonai. Preciso muito de Você.

O salmo de Ziva

Alguém pode medir

O que Ele tem feito?

Alguém pode imaginar

O que Ele tem ganhado?

Embora fosse cega

Estou começando a ver

O quão profundo meu orgulho é

Quero ser livre!

Quero a Luz

Que vejo nos Teus olhos

Preciso da Tua verdade

Para romper as mentiras

Quero ouvir

Quero ver

Será que tudo que fiz

Pode realmente ser limpo?

Vem brilhar Tua Luz,

Querido Messias!

Vem soltar minhas correntes,

Senhor de Amor!

Escolho ser nada

Para Ti, para Ti!

Senhor, se for Tua vontade,

Podes me fazer nova!

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