Ele Realiza Maravilhas
25/6/2005
Ele realiza maravilhas insondáveis,
milagres que não se pode contar.
Jó 5:9
A casa estava escura e quente. Ashira fechou a porta atrás de si e agachou-se para colocar o jarro de água perto da porta. Conseguia ouvir claramente sua própria respiração aflita no silêncio. Ela pausou para deixar seus olhos se ajustarem às sombras do quarto. Seu coração se sentia tão escuro quanto o quarto parecia estar. Ela estava brava com Ziva, brava com ela por aparecer nesse momento de dor, brava com ela só por ser Ziva. “Por quê?” Ela lutou para focar sua mente, sua garganta ainda tensa. “Ah, eu preciso levar essa água para Nana!”
—Ashira?—Ariel estava no corredor que levava para a parte de trás da casa, o nenê na anca. Sua voz ansiosa era um pouco mais que um cochicho—A febre de Nana está muito alta. A mãe precisa de você.
Com as mãos trêmulas, Ashira rapidamente encheu uma tigela com sua água do poço e a levou para o fundo do quarto. Tudo estava tão quieto. Ela estava com medo. Ezequiel, Rebeca e Kitra estavam amontoados na entrada do quarto da avó. Os olhos de Ezequiel, arregalados.
Kitra chegou perto de sua irmã mais velha—Shira, podemos vê Nana?
Ashira acarinhou o cabelo da pequena menina—Shhh… logo, logo.
Ela empurrou o pano grosso que foi pendurado como uma porta temporária e entrou no pequeno quarto.
—Ashira, rápido!—a voz de Jedida estava quase em pânico.—Ela está tão quente.—Ashira caiu de joelhos ao lado da enxerga de sua avó soltando um pequeno choro. A febre tinha claramente tomado conta do corpo. O rosto de Ana estava bem vermelho. Seu cabelo completamente molhado com suor. Jedida molhou um pano na água que Ashira trouxera, e o colocou na testa de Ana.
—Nana?—Ashira disse, baixo de início. Ela pegou a mão da avó, que estava quente ao tato, e a acarinhou.—Nana?—mas não houve nenhuma reação.
A respiração de Ana era quase imperceptível.
—Ó, Nana…—a voz de Ashira foi diminuindo, engasgada com medo.—Mãe, ela não está dizendo nada!—lágrimas corriam no seu rosto.
Jedida estava tremendo ao colocar seu braço em volta de sua filha. Os seus olhos estavam fundos e cansados; pois não descansara em dias. Ashira lembrou—Ah! Abba e Jesus. Eles estão no morro. Eles voltaram. Por favor, mãe…
A expressão de agonia no rosto de Jedida acalmou-se com alívio. Ela beijou a cabeça de Ashira.—Sim! Vá o mais rápido possível!—Ashira ficou de pé tonta e cambaleou até a porta.—E leve Ezequiel com você—Jedida adicionou.—Isso vai ajudar ele.
Ashira e Ezequiel voaram pelas ruas em direção ao lado extremo de Cafarnaum, onde os morros continuavam para o norte. No declive do morro somente restara alguns galileus. Ashira ofegava—Eles não estão aqui!
Três jovens meninos passaram por perto correndo e brincando de pega-pega.—Ei!—Ezequiel gritou, reconhecendo um companheiro de aula.—Onde Jesus está! Prá onde todos foram?
Um dos meninos parou e apontou para Cafarnaum—Jesus e a maioria dos outros desceram para a cidade na direção da sinagoga. Vamos lá. Quer brincar também?
Ezequiel não esperou para responder. Ele se virou e desceu correndo o morro, Ashira logo atrás. Chegando mais perto da sinagoga, as ruas ficaram mais e mais populosas. Quando a estrutura finalmente chegou à vista, a multidão estava tão compacta que quase não deu para penetrar nela. De repente um pequeno tumulto começou na porta da sinagoga.—Ashira, tô vendo eles!—Ezequiel gritou. Jesus e Simão com André e os outros estavam tentando descer as escadas da sinagoga.
Ao vê-los, o desespero de Ashira chegou ao máximo.—Por favor!—ela gritou, se esforçando para penetrar nessa multidão de pessoas.—Me deixe passar!—Ezequiel segurou firmemente na túnica dela, pois a pressão de tantos ameaçava separá-los. O barulho da multidão aumentava. Centenas se pressionavam em direção a Jesus. A voz de Ashira foi abafada, e ela foi imobilizada pelo grande número.
Alguém perto dela tagarelava—Eu vi ele fazer. O homem foi curado!
—Você viu a pele dele?—outra mulher disse.—Não dava para acreditar que antes era um leproso!
A parede de pessoas partiu-se por um segundo atrás de Ashira. Abrindo agora ao lado dela, um romano passou. Esbarrando levemente em Ashira, ela viu seu uniforme desordenado e empoeirado. Ashira sentiu um puxão na sua manga. Os olhos do Ezequiel brilhavam.—É aquele centurião!—ele cochichou roucamente. A multidão silenciou-se.—O que ele está fazendo aqui?—uma voz ecoou.
Paralisada em seu lugar, Ashira observava enquanto o homem se aproximava de Jesus. “Jesus está em perigo? Onde Abba está?” As pessoas rodearam Jesus outra vez, observando atentamente, e ela perdeu a vista dos dois. Ezequiel caiu de joelhos e saiu engatinhando para a frente da multidão. Ashira ficou nas pontas dos pés, tentando ver.
Jesus e o centurião estavam face a face. O romano removera seu capacete, e Ashira se esforçava para ouvir o que ele estava dizendo para Jesus—Senhor! Não mereço que você passe nem mesmo pela porta da minha casa. Por favor, só fale o comando, e meu servo será curado. Sou um homem de autoridade, e tenho autoridade sobre meus soldados. Quando falo para um ir, ele vai! E quando falo para outro vir, ele vem. Digo para meu servo, “Faça isso,” e ele faz com todo coração.—Jesus olhou nos olhos do homem, e Ashira ficou surpresa com a expressão do Mestre. Ele estava admirado. Ele sorriu, como se tivesse acabado de descobrir um tesouro. Jesus virou para a multidão e falou em voz alta e clara—Não achei fé como essa nem mesmo entre os filhos de Israel!
Alguns na multidão falaram entre si outra vez.—Como pode dizer isso! Os romanos são melhores que nós?—alguns começaram a ir.
Jesus colocou sua mão no ombro do homem—Vá. Será exatamente como acreditou que seria.
Ashira se espremia para passar pela multidão para se juntar ao seu irmão.—Shira,—Ezequiel disse.—Jesus curou o servo do centurião. Você ouviu?—ele apontou para o centurião, que se apressava para sua guarnição.
—Ezequiel, onde está Abba?—Ashira perguntou.—Precisamos dele logo!
—Por aqui!—Ezequiel a puxou pela multidão, que estava um pouco menos densa agora. Simão estava ao lado de Jesus, cativado por tudo que estava acontecendo ao redor de seu Mestre.
—Abba!—Ashira gritou, se apressando em direção a seu pai.
O rosto de Simão se abriu em um sorriso radiante que logo desapareceu ao ver as bochechas manchadas de lágrimas na sua filha. Ele a pegou em seus braços.—Ashira? O que está errado?
—É Nana. Ela está na cama por dias. Está com uma febre alta e…—a voz de Ashira falhou com angústia.
Jesus chegou perto—Simão, Ana está doente?
Ashira olhou para Ele, atingida outra vez por Sua bondade.—Sim, ela está muito doente—ela disse engasgando.
Jesus gesticulou para os outros discípulos ali perto—Vamos embora, tá na hora.
O caminho não era longo, mas mesmo andando rápido pareceu ser dolorosamente comprido para Ashira. Muitos da multidão seguiram. Assim que a casa estava à vista, Simão começou a correr. Ele abriu a porta e desapareceu para dentro na frente deles.
Ashira apressou-se atrás dele para dentro do quarto principal. Jesus estava logo atrás junto com André, Tiago, João e vários outros seguidores.
—Ashira,—Jesus disse—você pode me levar para onde Ana está?—Ashira O levou pelo pequeno corredor que levava para os pequenos quartos de trás. Ela afastou o pano que estava em frente à porta e eles entraram no quarto onde sua avó estava.
Ariel estava bem na entrada com o rosto embranquecido. Jesus parou e levantou seu queixo. Ele a chamou pelo nome—Ariel, não tenha medo.—Ela respirou fundo e acenou com a cabeça em acordo.
Ashira olhou para o fundo do quarto onde os outros estavam conversando juntos em vozes baixas. Simão estava com um braço ao redor de Jedida e as crianças menores amontoavam-se por perto, agarrando-se em seu pai. Jerede tinha subido das margens e também estava ao lado de seu pai. Ashira olhou nos olhos de seu irmão e conseguia ver sua angústia.
Perturbado, Simão olhou para Ana e depois para Jesus. Ela estava tão imóvel. Será que ainda estava viva? Ashira sentou de costas para a parede com os ombros caídos. Kitra deixou o lado de Simão e foi para o colo de Ashira.
—Tá tudo bem agora, Shira—Kitra cochichou.—Nana vai tá bem logo. Jesus veio!
Ashira olhou para Jesus. Ele estava se inclinando por cima de Ana. Naquele momento ela achou que Ele era o único nesse quarto sem medo da morte. Ela vira o destemor em Seus olhos quando disse para Ariel “Não tenha medo”. Que tipo de homem era tão estável, tão poderoso, tão amoroso diante da morte?
Jesus tocou a mão de Ana.—Saia—Ele disse. A autoridade na Sua voz alcançou cada canto. Ele claramente não estava falando com os presentes no quarto.
“Ele está mandando a febre sair?” Ashira segurou sua respiração e inclinou-se para frente.
—Ana—Jesus chamou com uma voz gentil. Ashira pulou de pé e todos no quarto ofegaram e juntaram-se em volta da cama quando Ana abriu seus olhos e sentou-se.
—Ana!—Simão não conseguia se conter.—Ana, como está!? Ah, Mestre! Obrigado!
A mão de Ana ainda estava na de Jesus. Ela não tirara seu olhar dEle. Vagarosamente ela achou sua voz—Que maravilhoso, Yesu, acordar com você me olhando!—Jesus sorriu e ajudou-a ficar de pé.
Jedida jogou seus braços em volta de Ana, dando um passinho para trás só para colocar suas mãos no rosto de sua mãe em admiração.—Sua febre foi embora!
Kitra deu um grito e pulou nos braços de Jesus, beijando seu rosto barbudo. Ezequiel deu um abraço em sua avó depois deu um berro de alegria ao sair correndo para dar a notícia aos outros. André deu um tapa nas costas de Simão. Eles viram tantos serem curados nas últimas semanas, mas esse era diferente, muito pessoal. Ashira se viu rindo pela primeira vez em muitos dias. Ela abraçou sua avó—Nana, como se sente? Você estava tão doente.
Ana, ainda tentando absorver tudo, estava radiante—Eu me sinto muito descansada, sem nenhuma dor!—Ela virou-se para Jesus—Agradeço Você!
O pulso de Ashira batia rápido, e seu coração estava radiante. O quarto ficou um pouco silencioso enquanto eles absorviam a maravilha do que tinham visto.
Ana olhou para a janela, seus olhos acessos com um brilho familiar—Jedida, tá tarde? Posso fazer alguma coisa para todos comerem?—E começou a ir para a porta.
—Ana!—Simão repreendeu brincando,—tem certeza que está a fim disso?
Ana caiu em gargalhadas—Bem, Simão, filho de Jonas! Acho que essa é a primeira vez que você fala algo contra ter uma refeição!—ela apertou sua mão.—Realmente, querido, nunca me senti melhor!
Jesus sorriu—Só se, é claro, Pedro, você quer que André cozinhe para todos.
André soltou uma risadinha, e Pedro queixou-se—Ah, não! Tentamos isso na volta de Jerusalém!
No meio de mais risadas, todos passaram para o quarto da frente. Jerede trouxe um pouco de sua pesca. Ashira abriu as janelas que estavam fechadas por muitos dias, e o sol da tarde fluiu para dentro da casa.
Ashira até esse momento tinha completamente se esquecido da multidão. Ela olhou para fora da pequena e alta janela para ver um pouco melhor. O gorjeio de muitas vozes rodeava a casa.
—Ana foi curada!—alguns diziam.—Jesus curou ela!
Ashira observava. A notícia espalhara e depois de pouco tempo a multidão tinha mais que duplicado em número. Pessoas estendiam-se para baixo da rua nas duas direções e mais chegavam.
—São tantos!—Ashira disse.
Jesus veio e olhou para fora também—Tantas ovelhas…
O pensamento foi interrompido por uma batida na porta. Ashira foi e a abriu. Ziva hesitou na entrada, e Ashira deu um passo para trás, endurecendo.
—Eu…—Ziva gaguejou desconfortavelmente,—eu ouvi que Jesus estava aqui.
Ashira deu um aceno relutante e Jesus veio para a porta—Oi, Ziva—Ele disse afetuosamente.
Ela foi na Sua direção, quase tropeçando na soleira da porta. Ashira pegou sua mão para estabilizá-la.
Ziva olhou para Jesus—Ó, Senhor!—ela caiu aos Seus pés, sua face quase tocando o chão.
O coração de Ashira estava a mil. Ela tirou seu olhar de Jesus, relutante em aceitar o que estava acontecendo. Jedida e Ana pararam seu trabalho e estavam observando. O quarto inteiro estava olhando silenciosamente. A Ziva nos pés de Jesus era a mesma Ziva orgulhosa que tinham conhecido por anos?
Jesus abaixou-se e levantou o queixo de Ziva. Ela tentou falar.—Ó, Mestre, me perdoe…—mas ela não conseguia terminar.
Gentilmente, Ele segurou o rosto dela em Suas mãos por um pouco, Seu olhar compassivo.—Ziva, sua fé te curou—Ele a levantou e beijou sua mão.—Esteja em paz.
Ziva sorriu. Ashira nunca tinha visto ela tão grata, submissa ou amorosa antes, mas, sem dúvida alguma, o olhar no seu rosto agora expressava uma combinação dessas mesmas três qualidades bem diferentes.
Ashira se sentia com calor, seus pensamentos confusos. Mais uma vez, Jesus tinha feito a última coisa ela que tinha esperado. “Não consigo ver dentro dela, mas Ele consegue. Ele vê o coração dela da mesma maneira que viu o coração do centurião. Ele vê algo, uma mudança lá, que O deixou contente. Por que eu não estou contente?” Ciúmes e raiva dentro dela estavam em conflito com o perdão que ela acabara de testemunhar nesse homem Jesus.
Ziva apontou para fora da porta.—Nós trouxemos Jessé, meu irmão, por favor, você pode ver ele?—Jesus saiu para fora, e Ziva seguiu de perto. Ela parou de repente, porém, ao ver Ana—Ana! Você está bem!
Ana sorriu e veio mais para perto—Ahhh, Yesu me fez bem, do mesmo jeito em que fez você bem.—As duas se abraçaram e Jedida veio também enquanto conversavam juntas.
Ziva encostou perto de Ashira, que não tinha deixado seu lugar perto da porta. As duas olharam nos olhos uma da outra—Ashira,—Ziva disse, se esforçando para achar as palavras—você pode me perdoar por como tenho tratado você? Eu estava tão, tão errada.—Ashira abriu sua boca e depois fechou-a outra vez. Ziva começou a falar mais, mas Ashira abaixou o olhar.
Houve altos gritos lá fora. Esdras colocou a cabeça para dentro da porta aberta—Jerede! Vem ver! Meu pai está bem!—A casa esvaziou-se. Ana e Jedida deixaram a comida. Ziva deu mais uma olhada para Ashira e correu pela porta.
Elizabete veio para Ashira, rindo e chorando ao mesmo tempo—Olha! Olha!—Ashira virou-se e viu: Jessé estava de pé! Ele não estava só andando, mas pulando! Seus gritos de glorificação se espalharam pela multidão jubilosa.
Esse era o começo de uma noite longa e cheia. As multidões traziam para Jesus seus queridos, os doentes e coxos e endemoninhados e Ele curou todos eles. A multidão regozijava em voz alta enquanto Ele andava entre o povo, colocando Sua mão em um depois em outro. Muletas e macas foram jogadas para o alto, seus donos curados. Pés que nunca tinham andado agora dançavam e todo tipo de enfermidade foi obrigada a sair. Ana, Jedida e Ziva, juntas, puseram as mãos para trabalhar. Elas trouxeram comida e bebida para aqueles que precisavam. Todos se ocuparam de várias maneiras nessa noite das noites.
As estrelas já estavam brilhando muitas horas antes de as multidões começarem a diminuir. Vários acharam lugares para dormir bem no pátio; outros voltaram para suas casas. Ashira olhou ao seu redor e viu Jesus no lado de fora perto da parede do pátio. Ele ajudou uma criança de seis anos a ficar de pé. A tosse constante do pequeno menino acalmou-se, e sua respiração voltou ao ritmo normal de uma criança. Os braços de Jesus estavam caídos. Mesmo seu trabalho sendo tudo para Ele, Ashira podia ver que Ele estava muito cansado. Ele nem tinha parado para comer. Enquanto os pais do menino levavam seu filho para casa, Jesus entrou no pátio. Ele abaixou-se e gentilmente levantou Kitra, que caíra no sono perto do portão com um sorriso no rosto.
Ashira entrou com Ele dentro de casa. A maior parte de sua mente estava tensa e adormecida, mas, ao fechar a porta atrás deles, seu coração ansiava algo a mais do que os milagres maravilhosos que Ele trouxera ao redor dela naquele dia.
Jesus cuidadosamente deu Kitra para sua mãe e cochichou—Durma bem, anjo. Boa noite, Jedida.
“Eu quero conhecer Ele.” Ashira pensou, seu coração doendo de ansiedade. “Com todo o meu coração, eu quero conhecer Ele”.