A Cristandade no Novo Milênio
Dois milênios se passaram desde que os discípulos desfrutaram de três anos de intimidade “aqui e agora” com Jesus e desde que toda uma geração de fiéis, “do menor ao maior”, descobriu essa mesma intimidade na ecclesia. Uma religião radicalmente diferente evoluiu a partir desse começo.
19/12/2007
Muita coisa pode acontecer em dezessete séculos. Cruzadas. Inquisições. Reformas. Movimentos. Missionários. Todos esses acontecimentos tiveram um impacto na história; cada qual foi objeto de incontáveis volumes de análise acadêmica. O saldo para nós, no entanto, é perceber que o cristianismo em seus primeiros séculos nos oferece dois legados para escolha.
Uma herança data dos primeiros dias, quando um grupo de homens e mulheres vivia com Jesus, experimentando-O em todos os momentos que viveram e em todos os lugares que estiveram. Esses primeiros discípulos depois introduziram a uma geração de pessoas que creram a mesma submissão vitalícia a Jesus e alegria de Sua presença. Essa experiência corporativa era chamada de ecclesia.
A segunda herança data quase da mesma época. Ela envolve a compartimentalização da vida em dias “especiais” e dias seculares, lugares “especiais” e lugares comuns, pessoas “especiais” e pessoas leigas, “religião” e “vida real”. A segunda versão do cristianismo cresceu em paralelo com a primeira, gradualmente sobrepujando-se a ela nos séculos II e III e dominando-a no século IV.
Onde, então, nos encontramos hoje, quando o cristianismo entra em um novo milênio? Como é a vida para a maioria dos cristãos praticantes? Suas vidas estão impregnadas com uma experiência de Jesus e uns dos outros, durante cada momento e em cada lugar? Ou os lugares, dias e pessoas especiais ainda dominam seu pensamento e suas ações?
Religião e Imóveis
Os adeptos contemporâneos da religião cristã podem se orgulhar de instalações que rivalizam com qualquer obra feita pelos construtores de catedrais de Constantino ou medievais.
No sul da Califórnia há uma instalação religiosa referencial construída com 10.000 painéis de vidro. Essa “catedral”, projetada por um arquiteto mundialmente famoso, foi construída em um período de três anos por um valor equivalente a 55 milhões de dólares em 2007. O pastor dessa primeira “mega-igreja” a financiou em grande parte vendendo painéis de vidro a 500 dólares cada. A estrutura colossal, que pode abrigar 3000 pessoas sentadas, também é conhecida por ter um dos maiores órgãos de tubos do mundo.
No outro lado do planeta situa-se a instalação religiosa de uma mega-igreja com um exterior completamente diferente: titânio. Concluída em 2002 com um custo de 27 milhões de dólares, tem capacidade para 2300 pessoas sentadas em suas instalações inspiradas no museu Guggenheim de Bilbao, na Espanha. Conta ainda com um café, campo de golfe, um jardim no telhado e uma área de socialização incluindo televisores de plasma. O auditório tem 1670 m2. Seu palco é equipado com uma brilhante tela de cristal líquido e duas salas de maquiagem adjacentes.
Em 2005, a maior mega-igreja da América do Norte se mudou para um prédio que anteriormente era sede de uma equipe profissional de basquete. A assembléia não-denominacional começou a se reunir em 1959, em uma loja abandonada de ração. Atualmente, se reúne na arena de 16.000 assentos, reformada em um período de 15 meses por um custo de 75 milhões de dólares. Durante o culto, três telas gigantes exibem videoclipes enquanto o pregador fala em frente a um globo dourado giratório.
Essas “basílicas” modernas são apenas os exemplos mais visíveis de uma das características intrínsecas da cristandade moderna: o “prédio da igreja”. No entanto, elas não são, com certeza, os únicos exemplos. Nos Estados Unidos, existem, no alvorecer do novo milênio, pelo menos um quarto de milhão de congregações que dizem representar a religião cristã.1 Alguns desses grupos compartilham construções; outros alugam instalações públicas, como escolas ou cinemas. Mas a maioria se reúne em suas próprias instalações dedicadas, que vão de humildes lojas urbanas à elaborada catedral de vidro. Segundo uma estimativa conservadora, perto de 200.000 prédios de igrejas espalham-se pela paisagem americana. Estima-se que o valor dos imóveis pertencentes a entidades religiosas dos EUA está acima de 6 bilhões de dólares.
Jesus disse uma vez a um discípulo voluntário ingênuo: “As raposas têm suas tocas e as aves do céu têm seus ninhos, mas o Filho do homem não tem onde repousar a cabeça” (Lucas 9:58). Como, então, há agora 200.000 estruturas que afirmam ser a “casa de Deus”? No Novo Testamento lemos sobre indivíduos e ecclesias que se sacrificavam financeiramente para “se lembrarem dos pobres” (Gálatas 2:10, 2 Coríntios 8-9) e para levarem adiante a proclamação do evangelho (Filipenses 4:10-20). No século XXI, vemos fiéis investindo bilhões de dólares em tijolos e cimento—ou, ocasionalmente, vidro e titânio.
Ninguém está sugerindo que a Bíblia proíbe as estruturas religiosas. No entanto, estamos sugerindo, definitivamente, que não há em todo o Novo Testamento um único cristão que tenha construído uma. Isso aparentemente jamais ocorreu a eles.
Um dos movimentos religiosos que mais rapidamente cresce no mundo ocidental está tentando dispensar totalmente o conceito de “prédio da igreja”. De acordo com uma pesquisa de 20062, cerca de 5% dos americanos que pertencem a uma entidade religiosa cristã de algum tipo freqüenta apenas igrejas em casas. Outros 19% fazem parte dos dois mundos, freqüentando regularmente uma igreja em casa e uma congregação convencional. A igreja em casa normal tem apenas vinte freqüentadores regulares, sendo sete deles crianças. Três quartos dos participantes se envolveram a menos de um ano. A maioria vê a mudança como uma experiência positiva, declarando ter um grau maior de satisfação do que suas contrapartes convencionais com a qualidade de sua liderança, o comprometimento com a fé de seus companheiros e a profundidade espiritual que experimentam.3
Mas a palavra operacional do parágrafo anterior pode muito bem ser “freqüentam”. É verdade que eles se reúnem em uma residência ou em algum outro local que não seja um prédio tradicional da igreja. Mas a maioria essencialmente trocou seus “cultos dominicais” para dentro de uma sala de estar, com poucas mudanças substanciais além do tamanho menor e do ambiente menos formal. Um total de 80% das igrejas em casas se reúnem sempre no mesmo dia todas as semanas e 62% jamais variam o formato da reunião. Uma das perguntas que é difícil de avaliar nos resultados dessas pesquisas é: Quantos membros das igrejas em casas têm vidas profundamente interligadas fora das reuniões? Ou, para fazer a pergunta de outra forma, quantos membros das igrejas em casas ainda vivem vidas fragmentadas e compartimentalizadas? Quantos ainda pensam e vivem como se a “igreja” estivesse localizada em um lugar específico?
Papai Noel, o Coelhinho da Páscoa e o “Venerável Dia do Sol”
Na sociedade ocidental o calendário está centrado em um feriado conhecido como “Natal”. Como um observador externo entenderia essa celebração? Por um lado, ela se refere a um bebê deitado em uma manjedoura, celebrado com um mês de música ininterrupta (pa-rumpa-pum-pum). Por outro lado, é sobre um morador ancião do ártico que viola todas as regras da física ao cruzar o globo em uma única noite, a velocidades que se aproximam da velocidade da luz, viajando em um trenó puxado por renas voadoras. Diz-se que esse senhor redondo invade e entra em todas as casas, seja descendo pela chaminé ou usando alguma outra brecha de segurança, e entrega presentes. Um observador externo iria sem dúvida ficar aliviado e confuso ao saber que esse homem é simplesmente parte de uma mitologia elaborada passada como verdadeira para crianças crédulas por adultos aparentemente responsáveis. Seria compreensível se o observador perguntasse se a outra história—aquela sobre o bebê—também é um conto de fadas.
Não é de admirar, portanto, que os ocidentais que cresceram com as histórias concorrentes pareçam achar o “verdadeiro sentido do Natal” um pouco evasivo. O “espírito” da estação supostamente tem algo a ver com alegria, generosidade e bondade em geral, porém os detalhes são um pouco difíceis de identificar. Como Shaw uma vez declarou: “Aquilo que um homem acredita pode ser determinado não por sua crença, mas pelos pressupostos segundo os quais ele habitualmente age”. Talvez, então, possamos entender as crenças reais das pessoas sobre o Natal observando o que elas habitualmente fazem durante essa época.
A maioria das pessoas, na verdade, compra e festeja.
Durante os 10 primeiros meses de 2006, as estatísticas do Census Bureau mostram que as lojas de departamento dos EUA cantarolam com 10 bilhões de dólares em vendas cada mês. Em novembro, as lojas de departamentos começaram a cantar uma nova música, a melodia familiar das caixas registradoras ajustadas para uma trilha sonora alternando as mesmas trinta “canções de Natal” tocadas incessantemente pelo alto-falante. É música para comprar. Os valores das vendas aumentaram para 13 bilhões em novembro e dispararam para quase 18 bilhões em dezembro—sendo a maior parte desse valor nas três primeiras semanas.
Outras lojas de varejo desfrutaram se aumentos similares nas vendas durante a “época de compras dos feriados”. Os americanos pagaram meio bilhão de dólares por árvores de Natal vivas e torraram ainda mais pelos enfeites. Em dezembro, as vendas de produtos esportivos, eletrônicos e computadores quase dobraram em relação à média mensal, enquanto as vendas de jóias quase triplicaram. O serviço postal entregou doze milhões de pacotes por dia durante a temporada. As lojas de bebidas alcoólicas, para não serem esquecidas, apresentaram um aumento enorme nas vendas, de menos de 3 bilhões de dólares mensais na maior parte do ano, para extraordinários 4,5 bilhões de dólares em dezembro.
Seria a auto-indulgência, caracterizada pelo materialismo e pelo consumo de álcool, o “verdadeiro sentido do Natal”? A resposta padrão cristã—pelo menos durante as últimas décadas—seria uma indignada afirmação: “Jesus é o motivo desse feriado”. Afirma-se que os secularistas, fizeram uma conquista hostil do feriado, mas em seu coração o Natal ainda se refere a Cristo.
Mas a história suporta esse pressuposto?
Para responder essa pergunta, devemos examinar novamente o paganismo romano. Eles adoravam uma “deidade” chamada Saturno, que é mais lembrado por ter devorado seus filhos após o nascimento, por medo de que um deles pudesse crescer e destroná-lo. Os romanos celebravam esse monstro com a Saturnália, um festival de uma semana, marcado por folias e materialismo, que era observado de 17 a 24 de dezembro todos os anos. Em AD 50, o pensador estóico Sêneca, o Jovem, escreveu: “É agora o mês de dezembro, em que a maior parte da cidade está em festa. Rédeas soltas são dadas para a dispersão pública, em qualquer lugar que se vá são ouvidos os sons de grandes preparações”. O escritor Líbano, do século IV, comentou sobre a Saturnália: “O impulso de gastar se apodera de todos… Por todos os lados fluem rios de presentes”. Parece familiar?
Os romanos também adoravam do sol. No começo do século III, eles começaram a celebrar um festival chamado Dies Natalis Solis Invicti, “o nascimento do sol invicto”, observado em 25 de dezembro. Nessa data eles podiam detectar que os dias começavam a se estender lentamente, em uma evidência de que o sol permanecia “invicto” frente à noite. Quando o imperador Aureliano assumiu o sol como seu “deus patrono”, no final do século III, ele promoveu a data de 25 de dezembro a um feriado em todo o império.
Em comparação, não há nenhuma evidência histórica de que os cristãos celebrassem o nascimento de Jesus em qualquer feriado antes do século IV. A data de Seu nascimento não está registrada nas escrituras. A única indicação que temos está no evangelho de Lucas, que nos informa que os pastores estavam “nos campos próximos e durante a noite tomavam conta de seus rebanhos”—uma forte evidência de que o nascimento de Jesus ocorreu durante os meses mais quentes, entre o final da primavera e o começo do outono. Uma data em dezembro simplesmente não se encaixa. Como, então, a “natividade” começou a ser observada na Saturnália, na mesma data que os pagãos definiram como a “natividade” do chamado deus-sol? Deixaremos um conhecido líder religioso sírio do século XII, Jacob Bar-Salibi, explicar:
Era costume dos pagãos celebrar no mesmo 25 de dezembro o nascimento do sol, ocasião na qual acendem luzes como indicação da festividade. Os cristãos também participavam dessas solenidades e festejos. Dessa forma, quando os doutores da Igreja perceberam que os cristãos [nominais] tinham uma inclinação por esse festival, se reuniram em concílio e resolveram que a verdadeira Natividade deveria ser solenizada nesse dia. (citado em Ramsay MacMullen, 1997, Christianity and Paganism in the Fourth to Eighth Centuries, p. 155, Yale)
O Natal, então, é um exemplo da estratégia de substituição na qual os costumes pagãos eram “cristianizados” e acolhidos no cristianismo. O “nascimento do deus-sol” se metamorfoseou no “nascimento do Filho de Deus” e os festejos e materialismo da Saturnália se metamorfosearam nos festejos e materialismo do Natal. Os nomes mudaram, mas a essência permaneceu a mesma.
E as outras tradições que associamos com o feriado de 25 de dezembro? Elas também vieram dos costumes pagãos europeus, atraídas para o Natal porque sua origem eram celebrações que ocorriam em datas próximas. O “yule” era um antigo festival de inverno dos escandinavos pagãos, que queimavam “troncos de yule” para honrar seu “deus do trovão”. O costume do beijo sob a coroa de azevinho, mantido nos países do hemisfério norte, é remanescente de um antigo rito da fertilidade da Bretanha, que ocorria todos os invernos quando a planta dá os seus frutos. As “árvores de Natal” são provavelmente um vestígio da antiga prática pagã germânica de decorar árvores durante a celebração da fertilidade, no inverno.
O morador ancião do ártico, “Papai Noel”, é produto de um tipo de evolução darwiniana. Diversas religiões pagãs do norte da Europa adoravam serem com descrições similares. Essas tradições se combinaram à história de Nicolas, um cristão do século IV conhecido por distribuir presentes aos pobres. O ingrediente final de nosso personagem é o “Pai Natal”, uma figura inglesa que originalmente simbolizava a bebedeira e os festejos desses feriados, que passou por uma reformulação de sua imagem durante o período vitoriano. Acrescente o trabalho de um cartunista americano do século XIX, Thomas Nast, e a evolução de um mito moderno está completa.
Essa história resumida do Natal levanta a questão: Como é possível “manter o Cristo no Natal” se Ele jamais esteve lá? E como é possível “tirar Saturno da Saturnália”—junto com todos os outros elementos pagãos—se aí está a origem dessas tradições?
Outros feriados aceitos pela maioria dos ocidentais, tanto praticantes do cristianismo quanto do humanismo secular, têm histórias semelhantes.
Na América do Norte, no dia 31 de outubro, todos os anos, bandos de crianças fantasiadas avançam por suas vizinhanças coletando doces. Os disfarces mais populares são esqueletos, cadáveres, assassinos de filmes, figuras do ocultismo e representações estilizadas do diabo. As “histórias de fantasmas” se revezam. Todos os anos, Hollywood promove o mais recente lote das franquias de filmes de terror sádicos, que oferecem a mutilação e o assassinado como entretenimento. O vandalismo também é lugar-comum. Em algumas áreas metropolitanas, a noite da véspera, conhecida como “noite do diabo” ou “noite do inferno”, é celebrada com atos aleatórios de incêndios criminosos. Os mexicanos observam seu “Dia dos Mortos”, decorando os túmulos dos parentes falecidos com “oferendas”—brinquedos, álcool, comida ou quinquilharias—presentes para os mortos. Vendedores nas ruas comercializam bugigangas em formato de esqueletos. Doces conhecidos como “crânios de açúcar” são dados como presentes. Uma das refeições favoritas é feita é um coelho decorado com glacê branco para parecer um esqueleto deformado.
A maioria dos cidadãos dessas culturas vê essas celebrações com um sentimentalismo afetuoso. A maioria também afirma ser cristã. Como pode ser? Não há uma enorme contradição entre os valores de Jesus e esses “dias sagrados” notadamente pagãos?
Os celtas pagãos habitavam a Bretanha há dois milênios. Sua religião ocultista incluía um festival de outono que celebrava a morte. Os dias mais curtos e o clima mais frio significavam o final da vida para as plantações do campo e as folhas das árvores. Os celtas acreditavam que as barreiras que separavam os vivos dos mortos caíam por uma noite. Eles estavam convencidos de que os espíritos dos mortos procurariam seus parentes vivos e, portanto, tentavam pacificar esses “fantasmas” com os rituais apropriados. Seus contemporâneos, os romanos, afirmavam que esses ritos druidas incluíam o sacrifício humano.
Como os celtas teimosamente se recusavam a abandonar suas tradições pagãs, os oficiais religiosos do século VIII decidiram oferecer a eles um substituto, o “Dia de Todos os Santos”, em 10 de novembro. Ainda era um dia para honrar os mortos, porém os líderes tentaram concentrar a atenção nos heróis cristãos falecidos. No século XI foi proposta uma segunda acomodação ao paganismo. Foi acrescentado um “Dia dos Finados”, para que as pessoas pudessem honrar os parentes mortos e não apenas os “santos”. Esse festival religioso de dois dias se tornou conhecido nos países anglófonos como “Hallowmans”, e a noite da véspera como “All Hallows’ Eve”. O uso popular diminuiu o nome para “Halloween”.
O disfarce aplicado ao paganismo logo se gastou, ao que parece. Atualmente, quase ninguém na América do Norte considera os aspectos cristãos do Dia de Todos os Santos ou do Dia de Finados a sério. Mas os aspectos pagãos do dia ainda florescem em cada 31 de outubro.
Com a criação do “Hallowmas” e do “Halloween”, os oficiais descobriram uma estratégia bem-sucedida para interromper a tradição religiosa celta. Mas eles não a interromperam mudando corações ou mesmo hábitos. Em vez disso, eles simplesmente mudaram seu nome, acrescentaram alguns adornos cristãos e acolheram-na na religião cristã! Mas essa estratégia cristianiza o paganismo ou, na verdade, apenas paganiza o cristianismo?
E a Páscoa? Certamente nenhum “dia especial” é mais cristão do que a celebração anual da ressurreição, certo? É verdade que na metade do século II—duas gerações após os apóstolos—um tipo de observância anual da ressurreição estava se tornando mais comum entre os fiéis. Mas a história dessa prática não remonta à igreja nos seus primeiros dias. Um conhecido historiador do século V, que observava o feriado, ofereceu um comentário perspicaz sobre suas origens:
Visto que os homens amam os festivais, pois permitem que eles parem seu trabalho: cada indivíduo, em cada lugar, conforme seu próprio prazer, tem, por um costume prevalecente, celebrado a memória da paixão salvadora. O Salvador e seus apóstolos por nenhuma lei nos obrigaram a manter essa festa: nem os Evangelhos e apóstolos nos ameaçam com qualquer penalidade, punição ou maldição por sua negligência, como faz a lei de Moisés com os judeus. É somente pela precisão histórica… que está registrado nos evangelhos que nosso Salvador sofreu nos dias do pão não-fermentado. O objetivo dos apóstolos não era indicar os dias do festival, mas ensinar uma vida justa e piedosa. E a mim parece que, assim como muitos outros costumes foram estabelecidos em localidades individuais de acordo com o uso, também a festa da Páscoa começou a ser observada em cada local de acordo com as peculiaridades individuais dos povos, visto que nenhum dos apóstolos legislou sobre a questão.4
Entendeu? Um dos primeiros historiadores católicos reconheceu que a Páscoa não foi ensinada nem praticada pelos apóstolos, que, de qualquer modo, não tencionavam estabelecer “dias de festival”. Ao invés disso, os homens que estabeleceram a Páscoa “de acordo com seu próprio prazer” na verdade “amavam festivais” porque tiravam uma folga do trabalho! A Páscoa, em vez de datar da igreja em seus primeiros dias, foi apenas um costume estabelecido pelo uso local.
O Novo Testamento não fornece nenhuma indicação—zero—de que o dia da ressurreição, significativo como é, devesse ser honrado por uma celebração anual. Havia um modo que Jesus autorizou Seus seguidores a se lembrarem de Seu corpo e sangue: a refeição de pão e vinho que algumas vezes é chamada de Ceia do Senhor. Porém os primeiros cristãos não vinculavam essa memória a uma data do calendário. Afinal, Jesus havia dito para comer e beber a Ceia como memória Dele “sempre que o fizerem” (1 Coríntios 11:25). Para os primeiros cristãos, essa refeição poderia (e iria) ocorrer em qualquer dia da semana e em qualquer dia do ano (Atos 2:42, 46).
Para um modo de vida, a celebração livre e contínua da morte e ressurreição de Jesus, incorporado na Última Ceia, é perfeita. Porém, para uma religião, uma data fica no calendário é preferível. Assim, à medida que as gerações passaram e o cristianismo começou a se reinventar como uma religião, um “dia especial” acabou entrando no calendário. E assim que a data foi definida, o “feriado” começou a se combinar com rituais pagãos pré-existentes que eram observados na mesma época do ano.
O próprio nome da Páscoa nos idiomas inglês e alemão (“Easter”) aparentemente deriva de uma “deusa” germânica chamada “Eostre”. Os símbolos pagãos de ritos esquecidos da fertilidade da primavera também foram vinculados ao festival. As crianças pequenas de todos os lugares acreditam apaixonadamente no mito de um coelho que traz ovos. Na verdade, o “Coelho da Páscoa” é muito mais reconhecido como um símbolo do feriado do que a cruz ou o túmulo vazio.
Em todos os lugares onde o feriado chegou, uma celebração obscura conhecida como Carnaval ou Mardi Gras o acompanhou. O Mardi Gras ou a “terça gorda”, é uma explosão carnal de bebedeira, deboche e folia—deliberadamente agendado no dia anterior ao período tradicional de jejum e autonegação que precede à Páscoa. Pelo próprio ato em si de definir um dia especial para a reflexão sóbria sobre a crucificação e a ressurreição, os cristãos estavam involuntariamente definido outro dia especial para a depravação e a decadência. A Páscoa criou o Mardi Gras.
Os dias especiais em geral fazem isso.
É claro que nenhuma pesquisa dos “dias especiais” do cristianismo estaria completa sem mencionar o domingo. Vimos que os cristãos dos séculos II e III se desviaram para a tradição do culto de adoração semanal, algo que é completamente ausente no registro do Novo Testamento. Também vimos que Constantino legislou no século IV para que o “venerável dia do sol” —novamente o Solis Invicti —fosse observado como um dia de descanso romano. No século XXI, as assembléias cristãs relaxaram um pouco em sua programação. Três quartos de todas as congregações evangélicas oferecem diversos “cultos de adoração” a escolher, a fim de acomodar as diferentes preferências de gênero musical ou “estilo de adoração”. Alguns cultos foram mudados para horários não-tradicionais, como as noites de sábado. Mesmo assim, o “dia do sol” de Constantino ainda governa os dias da semana religiosa. Como resultado, o cristianismo de nosso século ainda é considerado como algo que se faz em reuniões agendadas que, com esperança, o apoiarão através dos dias de sua vida “normal”. O paradigma não foi realmente alterado.
Ninguém quer ser conhecido como um “desmascarador contra o dia sagrado do domingo”. Esse não é realmente o ponto. O fundamental é reconhecer que o cristianismo, como o definimos em nossa geração, é inseparável de seus dias especiais. Esses dias não eram parte da experiência original da igreja em seus primeiros tempos. Em vez disso, esses dias especiais eram intrometidos, invasores de um ambiente pagão que foram acolhidos no cristianismo em uma tentativa falha de “cristianizá-los”. A religião, em seu núcleo, se resume totalmente a dias especiais. O cristianismo, ao contrário, se resume em Jesus, hoje e em todos os dias. Há uma diferença.
“Homens Especiais” ao Estilo do Século XXI
A cristandade do novo milênio se caracteriza não apenas por “lugares especiais” (o prédio ou a sala de estar” e “dias especiais” (feriados e dias de culto programados), mas também por “homens especiais”. A versão do século XXI do “homem especial” nos círculos evangélicos é conhecida como “pastor”.
Como vimos, os autores do Novo Testamento usavam originalmente os termos “presbytero”, “epískopo” e “poimenas” alternadamente para descrever a mesma pessoa (Atos 20:17-28). No idioma português a palavra pastor (poimenas) se refere atualmente mais para uma “pessoa especial” religioso do que o antigo significado rural de cuidar de rebanhos. Quando o Espírito Santo, falando através dos apóstolos, usava a palavra “pastor”, ela significava apenas um trabalhador rural que guarda, protege e alimenta os rebanhos no campo aberto. Não era um título religioso. Ela uma palavra figurativa, com a intenção de desenhar uma imagem mental de uma função, algo que certos Cristãos com dons, capacidade e maturidade apropriadas poderiam oferecer dentro da ecclesia local.
No século I, os “pastores” não eram contratados ou demitidos. Eles simplesmente eram pessoas normais como todas as outras de uma assembléia local, como todos os demais. Reconhecia-se que tinham o “dom do pastor” por causa do impacto que já estavam tendo na alimentação e proteção do povo de Deus. Suas qualificações, relacionadas nas escrituras, tinham todas a ver com caráter, fé e fruição (1 Timóteo 3; Tito 1). Quando a ecclesia local se reunia, os pastores não eram os palestrantes preprogramados ou mestres de cerimônias (1 Coríntios 14:26-31). Alguns podem ter ensinado, mas eles não eram os únicos mestres (Colossenses 3:16; Hebreus 5:12). Um pastor poderia receber algum tipo de suporte material (Gálatas 6:6; 1 Timóteo 5:17-18), mas seria um compartilhamento, não um salário. A cobiça jamais deveria ser sua motivação (1 Pedro 5:2). Acima de tudo, eles deviam funcionar como irmãos, não dominando os outros, mas vivendo entre eles como servos (Mateus 20:25-28, 23:8-12, 1 Pedro 5:2).
A linguagem tem sido um problema colossal para a raça humana desde Babel. Uma pequena palavra de seis letras como “pastor” se conecta a milhares de experiências diferentes armazenadas na memória de quem a escuta. Se você mostrar, por exemplo, Efésios 4:11 a um Cristão do século I, ele ou ela veria a palavra grega poimenas, pensaria imediatamente em “pastor de rebanhos” e uma fração de segundo depois associaria a palavra com diversos relacionamentos intimamente próximos na ecclesia local. Se mostrasse 1 Timóteo 3 para um Cristão do século XXI, no entanto, ele ou ela pensaria em “pastor” e associaria a palavra com o homem que prega, aconselha, casa e enterra no prédio rua abaixo. A mesma escritura, sim, porém dois conceitos vitalmente diferentes. No século I, “pastor” era um relacionamento; no século XXI, “pastor” é a “pessoa especial” da “religião” cristã.
Qual é a descrição de cargo de um pastor moderno? O que ele realmente faz? Podemos obter uma visão bastante precisa a partir de pesquisas científicas5 que formularam essas mesmas perguntas. O pastor médio informa que trabalha 46 horas por semana. A semana de trabalho pastoral se divide assim:
• Preparação para o culto semanal, incluindo o sermão: 15 horas
• Aconselhamento a pessoas com problemas ou visitas a doentes: 9 horas
• Comparecimento a “reuniões de negócios” e realização de trabalho administrativo: 7 horas
• Condução de aulas ou treinamento de pessoas para o "ministério": 6 horas
• Envolvimento em assuntos da comunidade ou associações de ministros: 3 horas
• Tarefas diversas: 6 horas
Se retirássemos dessa semana do pastor médio tudo o que não tinha relevância na ecclesia do Novo Testamento, o que sobraria? A igreja dos primeiros tempos não tinha “cultos”, como nós os conhecemos, e certamente não havia os sermões semanais associados; risque o primeiro item da lista. Eles não tinham reuniões de negócios. As pessoas certamente eram “capacitadas para servir”, porém não em aulas de treinamento. As escolas dominicais, afinal, não seriam inventadas antes de outros mil e oitocentos anos. E embora os fiéis que estivessem doentes ou aprisionados definitivamente recebessem cuidados, isso era considerado como trabalhado de todos os membros. A “congregação” não “contratava” um especialista para fazer a maior parte das atividades por eles.
E esse é o ponto principal. Não é que a função do clero profissional tenha evoluído ao longo dos anos à medida que os tempos mudaram. É que todo o conceito de “clero profissional”, como é praticado em nosso século, é estranho ao Novo Testamento!
Por favor não leia essa afirmação como um “ataque aos pastores”. Nada poderia estar mais longe da verdade que isso. Normalmente um pastor sem dúvida entra no “ministério” com a melhor das intenções. Talvez ele seja um jovem sincero e enérgico que teve a oportunidade de falar em encontros devocionais ou ministrar estudos bíblicos. Ele não era eloqüente, mas estava compartilhando com um desejo sincero de servir a Deus e encorajar os outros. As pessoas ouviram sua sinceridade e sentiram o calor de sua fé, então foram encorajadas. Logo alguém—talvez o pastor—sugeriu que ele poderia querer “entrar no ministério”. Essa idéia soou maravilhosa ao jovem. Ele queria fazer a diferença e amava a Deus; que carreira melhor poderia haver do que ser um “trabalhador em tempo integral”? Então ele foi para a faculdade teológica ou seminário e talvez para um estudo mais graduado após isso. Talvez ele tenha se casado com alguém que conheceu na escola e que parecia compartilhar seus ideais e sonhos. Durante os longos anos de sua educação e treinamento, eles trabalharam e se sacrificaram; 60% dos pastores evangélicos dos Estados Unidos têm um mestrado ou outro título superior. Depois de um bom tempo eles foram “chamados” para seu primeiro “pastorado” e foram trabalhar, com grandes sonhos de “fazer grandes coisas pelo Senhor”.
Em média para um pastor evangélico nos Estados Unidos, esse chamado ocorreu há 20 anos, 9 meses e 26 dias atrás. Isso significa que ele acumulou cerca de mil “semanas de trabalho pastoral” de sermões, reuniões de negócios, sessões de aconselhamento, visitas a hospitais, casamentos, funerais e “dias de trabalho”. Precisamos desesperadamente perguntar: tem sido bom para ele? Tem sido bom para as famílias nos bancos das igrejas? A divisão clero-leigo da cristandade moderna é sequer saudável, sem dizer bíblico?
Vamos considerar por um momento uma das implicações de haver um clero profissional. Os profissionais, por definição, recebem um salário. Em média um pastor tem levado para casa um salário por mais de 20 anos, mas provavelmente ele ainda sente uma pressão considerável em suas finanças pessoais. Nas denominações evangélicas do mundo inteiro, o pagamento de um pastor é diretamente proporcional ao tamanho de sua congregação. Temos os dados exatos6 dos Estados Unidos. A renda anual doméstica média de congregações evangélicas em 2002 era de 41.000 dólares, virtualmente idêntica à média dos EUA.7 E os pastores? A maioria (63%) eram empregados por congregações com menos de 100 membros. Em média, esse clero recebia apenas 22.300 dólares—um valor que faz com que a família do pastor tenha uma das menores rendas domésticas de toda a congregação. As congregações com 101-350 membros, responsáveis por 32% da amostra, pagavam a seus pastores um salário médio de 41.051 dólares, colocando-os diretamente no meio da classe média. Um pastor em cada vinte pastores tinha a sorte de trabalhar para uma congregação de 351-1000 membros e vivia com muito mais conforto, trazendo para casa 59.315 dólares. E um pastor em cada 200 trabalhava em uma grande congregação com mais de 1000 membros ganhava muito bem, tendo um salário de 85.518 dólares—que, com o ajuste da inflação, seria equivalente a uma renda de seis dígitos em 2008.
Esse cenário é saudável para os envolvidos? Ou atrai charlatões e expõe seres humanos bem-intencionados porém falíveis a tentações que ninguém deveria ter que enfrentar?
Uma dessas tentações, por exemplo: Se o pastor de uma congregação de 1000 membros consegue ganhar um salário de seis dígitos, o que ganhará o pastor de uma congregação com 10.000 membros? À medida que o século XX se aproximava do final, uma nova raça de clérigos—parte empreendedores, parte pregadores—começou a aplicar os princípios aprendidos no “movimento para o crescimento das igrejas”, com montes de energia e muito entendimento de marketing. Esses “empreen-pastores” se dedicaram a criar a experiência de igreja “amigável ao usuário”. As instalações religiosas deixaram de lado o vidro pintado, os bancos e campanários e assumem a aparência de shopping centers elegantes com um paisagismo impecavelmente cuidado e confortáveis assentos ao estilo dos estádios. As mensagens se tornaram mais otimistas, com uma temática decididamente de auto-ajuda. Apresentações caprichadas de músicos profissionais tocando melodias de soft-rock se tornaram a norma. Alguns cultos tinham quadros de “aquecimento” com comediantes ou outros artistas para que a audiência relaxasse. E as “mega-igrejas” em evolução acrescentaram novos privilégios aos membros. Formaram-se grupos de interesse para cada hobby que se possa imaginar. As assembléias acrescentaram escolas, bancos, creches, farmácias, cafeterias, financiadoras imobiliárias, centros de aconselhamento e similares em um esforço para atrair ainda mais membros. Extravagâncias multimídia, com iluminação e som profissional e coros com centenas de membros se tornaram lugar-comum.
A compensação de muitos (certamente não de todos) esses “empreen-pastores” agora é bastante semelhante a do CEO de uma empresa com 10.000 funcionários. Adicione uma renda da venda de livros e de palestras e alguns poucos pastores seletos de mega-igrejas se tornaram mega-ricos. Um artigo de 2003 da publicação St. Louis Post-Dispatch descrevia os estilos de vida de diversos clérigos prósperos. Um dirigia um Rolls Royce preto e viajava em um jato de 5 milhões de dólares; outro morava em uma casa de 3,5 milhões de dólares; um outro era proprietário de duas mansões; e outro ainda tinha um iate de 50 pés; e um “time de ministério” formado por marido e mulher tinha um jato, um Cadillac Escalade e uma Mercedes-Benz sedã. Um artigo de 2006 do jornal New York Times informava sobre um negócio de livros no valor de 13 milhões de dólares feito por outro “empreen-pastor”.
Nosso pastor comum, no entanto—o sujeito que tem dado duro em sua semana de trabalho de 46 horas durante os últimos 20,8 anos—não tem que lidar com o dilema moral de comprar ou não aquele iate. Afinal, a freqüência média semanal de sua congregação é de apenas 61 pessoas. Metade desses membros diz que paga o dízimo, mas não há muito sobrando depois que os empréstimos e as contas de luz e água são pagos. O pastor normal e sua congregação comum estão na lista das espécies ameaçadas de extinção. A lista de “membresia da igreja” na América não está crescendo. Na verdade, é o que os economistas chamam de “jogo de soma zero”. Para cada vencedor que constrói uma mega-igreja com milhares de membros, há dezenas de “pastores normais” que perdem membros e se encontram cada vez mais perto do penhasco. Quais as tentações que eles enfrentam?
Uma delas, é claro, é a ansiedade. Quantos pastores deixariam “o ministério” caso seu diploma teológico e CV permitissem alguma esperança realista de conseguir um emprego “secular” seguro e com pagamento decente?
Uma tentação menos óbvia, talvez, é a precaução e o comprometimento. Apenas relativamente poucos pastores (29,5%) dizem que gostam de desafiar os “líderes leigos” com novas idéias e programas. A maioria (70,5%) admite que “em geral, preferem manter as coisas funcionando bem, com a introdução gradual de mudanças”. E quando chega o momento de tomar decisões sobre qual deve ser o foco da congregação, não são muitos (26,9%) os que afirmam que discutem o “raciocínio teológico” de como Deus se sente sobre o assunto. A grande maioria (73,1%) reconhece que “primeiro levam em consideração o quanto atende as necessidades dos membros ou dos membros potenciais”.8 Com a falência pessoal e da congregação batendo à porta, a principal consideração se torna manter os membros atuais felizes e tentar recrutar alguns novos membros. Será que é provável que um sistema como esse resulte em homens com vozes corajosas e proféticas que arriscarão tudo para levar a igreja em uma direção radicalmente nova (ou radicalmente antiga)?
A separação de cristãos em “clero” e “leigo” tem outro efeito indesejado, porém desastroso: a perda do relacionamento genuíno. Um pastor ao estilo do século I, que funcionava como um “irmão entre irmãos” não tinha opção a não ser liderar a partir do relacionamento pessoal, envolvendo-se profundamente nas vidas dos demais e demonstrando as lições que estava tentando ensinar. Um pastor ao estilo do século XXI deve tentar funcionar a partir de uma posição acima do “leigo”. Ele tem um título, um escritório e um papel designado de especialista em assuntos religiosos. Ele tenta cumprir suas funções principalmente por meio de encontros—o culto de adoração, a reunião de negócios, a aula, a sessão de aconselhamento—ao invés de interações diretas na vida diária normal.
É por isso que a maioria dos pastores é bastante solitária. Uma pesquisa9 recente abriu uma perspectiva reveladora em três afirmações simples. Basicamente todos os pastores—98% dos pesquisados—se considerava uma pessoa com o dom de ensinar. Não menos que 80% deles se consideravam “fazedores eficazes de discípulos”. Ainda assim uma maioria significativa dos pastores—mais do que seis em cada dez—admitia que “tinha poucos amigos próximos ou até nenhum”. Claramente a maior parte dos pastores acredita que a transferência de informação é a questão essencial em ensinar e conseguir discípulos. Sua própria função, no entanto, os isola dos demais e evita a transferência eficaz da vida.
Essa desconexão entre “pastor” e “membro” tem graves conseqüências espirituais.
Em uma pesquisa científica realizada em 2006, uma amostra nacional (EUA) representativa de pastores protestantes pediu a eles que avaliassem a saúde espiritual de suas congregações. Os pastores, na média, afirmaram que 70% de seus membros tinham a fé como a principal prioridade de suas vidas. Um pastor em cada seis foi mais além, dizendo que 90% de seus membros tinham seu relacionamento com Deus como a maior prioridade. No entanto, quando os membros, “as pessoas nos bancos da igreja”, tiveram que responder a mesma pergunta, nem um quarto confirmou isso! A grande maioria dos membros das assembléias protestantes foi suficientemente honesta em colocar a fé atrás da carreira, da família ou da busca da felicidade em sua lista de prioridades.
Pense nisso—após centenas, se não milhares, de sermões, seminários, “revivamentos”, oficinas e lições das escolas dominicais, uma quantidade relativamente pequena daqueles que ouviam repetidamente a importância de tornar Deus sua maior prioridade afirmaram estar vivendo segundo os ensinamentos que receberam. Mas os mestres continuam em frente, culto após culto, aula após aula, alheios ao fato de que o impacto da inundação de palavras está sendo pequeno.
Deus falou:
Essa é a aliança que farei com a comunidade de Israel depois daqueles dias, declara o Senhor. Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações. Serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Ninguém mais ensinará ao seu próximo nem ao seu irmão, dizendo: “Conheça ao Senhor, porque todos eles Me conhecerão, desde o menor até o maior. (Hebreus 8:11-12)
Se homens estão ensinando ao seu próximo e aos seus irmãos continuamente para conhecerem o Senhor, porém esses que estão sendo ensinados ainda não O conhecem e nem se entregaram ao alvo de conhecer Ele como sua prioridade máxima, então essa informação seria muito importante saber. Essa situação é não menos que uma violação da nova aliança! Ainda assim, aqueles que sem dúvida teriam mais necessidade de saber a verdade sobre a condição espiritual de seu “rebanho” são, talvez, os menos conscientes disso.
Por que há esse desligamento? Quando foi pedido aos pastores participantes da pesquisa que relacionassem alguns padrões específicos que usavam para avaliar a saúde espiritual de seus membros, a maioria disse que olhavam para o percentual de membros que se voluntariavam para algum “programa” ou “ministério” da igreja. Quase metade mencionou também algum tipo de “experiência de conversão” e o comparecimento regular aos cultos como critérios importantes. Nenhuma outra medição foi usada por uma fração significativa dos pastores.
A organização que realizou a pesquisa apresentou as seguintes percepções:
A linha unificadora traçada pelas respostas dos pastores a uma pergunta aberta da pesquisa relacionada a como a saúde congregacional é avaliada foi a de que a maioria das medições comuns não avaliam muito além da participação superficial das pessoas na igreja ou em atividades relacionadas à fé… Talvez a informação mais ilustrativa se relacione às medições que não são usadas amplamente pelos pastores para avaliar a saúde espiritual das pessoas. Menos de um em cada dez pastores mencionou indicadores como a maturidade da fé de uma pessoa em Deus, a intensidade do compromisso de amar e servir a Deus e às pessoas, a natureza do ministério pessoal de cada pessoa que congregava, a amplitude do envolvimento congregacional no serviço comunitário, a extensão com que os Cristãos têm alguma forma de responsabilidade por seu desenvolvimento espiritual e estilo de vida, a maneira com que os Cristãos usam seus recursos para ampliar o reino de Deus, a freqüência com que as pessoas adoram Deus durante a semana ou sentem como se tivessem experimentado a presença de Deus, ou como a fé está integrada à experiência familiar daqueles ligados à igreja… Nunca antes a sociedade americana teve uma necessidade tão grande de que a igreja cristã forneça um caminho para um futuro melhor. Dado volume dos desafios morais e a grande fome espiritual que define nossa cultura atualmente, este deveria ser o auge do ministério bíblico. Do modo como as coisas estão hoje, ficamos contentes em apaziguar os pecadores e enchendo auditórios como indicações da saúde espiritual.10
E assim vemos a triste ironia do sistema clero-leigo no novo milênio. As pessoas que mais querem fazer uma diferença na igreja estão isoladas das pessoas que estão tentando ajudar. Elas estão colocadas nessa posição para atingir o objetivo por meio da transferência de informações em um sistema baseado em reuniões e são penalizadas quando ousam se arriscar. E verdade é sempre arriscada.
Um Milhão de Tragédias
Dois milênios se passaram desde que os discípulos desfrutaram de três anos de intimidade “aqui e agora” com Jesus e desde que toda uma geração de fiéis, “do menor ao maior”, descobriu essa mesma intimidade na ecclesia. Uma religião radicalmente diferente evoluiu a partir desse começo. Como outras religiões do mundo, esse “cristianismo” se baseia em observâncias religiosas conduzidas em “lugares sagrados”, em “dias sagrados” e sob a orientação de “homens sagrados”. Com certeza há variações culturais, mas raramente ele se afasta desse paradigma tradicional.
É absolutamente crítico que façamos a nós mesmos a seguinte pergunta: Como está indo esse cristianismo do século XXI? Qual é seu fruto nas vidas de seus membros? Devemos simplesmente aceitar o fato de que o cristianismo “é o que é” e concordarmos todos em trabalhar dentro do sistema como “homens da igreja” ao invés de reformadores? Ou a perda foi tão grande e os frutos tão insuficientes que devemos nos alarmar? O adesivo com temática política que afirma “Se você não está indignado é porque não está prestando atenção” também se aplica ao cristianismo? Ou esse discurso é apenas “negativismo”?
Talvez devamos começar pelos jornais. Poderíamos pegar qualquer ano, na verdade, mas vamos escolher um período de doze meses entre 2005-2006. Descobriremos que três matérias sobre “membros da igreja” respeitáveis chocaram os Estados Unidos, gerando manchetes de primeira página de costa a costa.
Primeiro, um assassino em série que aterrorizou uma cidade e desafiou a polícia durante três décadas foi finalmente preso. O depravado assassino se declarou culpado no julgamento e depois descreveu com calma cada assassinato com detalhes medonhos. As perversões chocantes desse torturador-assassino são muito vis para serem descritas aqui. Mas a perversão era alimentada por um vício incontrolável por pornografia violenta. Na vida desvirtuada desse matador, a fantasia de tempos em tempos escapava para o mundo real.
A identidade do assassino? O fato que atraía as manchetes era: na ocasião em que foi preso, ele atuava como presidente de sua congregação. Ele foi pego porque enviou um disquete a um jornal local, gabando-se de seus crimes e zombando dos oficiais da lei por sua inabilidade em pará-lo. O disquete foi rastreado até um computador no escritório da igreja.
Os membros de sua assembléia ficaram absolutamente espantados após sua apreensão. “Fiquei pasmo, aturdido, chocado”, seu pastor afirmou. “Não é possível. Não o homem que eu conheço.” Um membro recordou como o assassino havia trazido molho de espaguete e salada para um “jantar da igreja” apenas alguns dias antes. Outro membro disse que ele era “um homem muito gentil”, lembrando da preocupação dele após uma operação de rim dela. Um garoto de cinco anos de idade, quando viu a foto do homem na televisão, virou para seu pai, que tinha servido como porteiro junto com o assassino, e perguntou “Ele nos enganou, não é?” O pai contou a um repórter: “Não sei o que dizer a ele. Não sei nem o que dizer a mim mesmo”. Um oficial da hierarquia da denominação pregou um sermão no domingo seguinte e disse: “Sentimos tristeza angustiosa, raiva, devastação, choque e dúvidas. A própria fundação de nossa fé está abalada”.
Após sua prisão, o assassino escreveu o que seu pastor chamou de uma carta “bastante genérica e imprudente” à congregação, agradecendo-os por seu apoio e pedindo-lhes suas orações. Eles colocaram a carta em um quadro de avisos no hall de entrada e a incluíram nos anúncios da manhã.
O assassino em série atualmente cumpre 10 sentenças consecutivas de prisão perpétua em uma penitenciária federal.
Apenas três meses depois do final do julgamento, outra história trágica atraiu as manchetes da nação. Um garoto de dezoito anos acusado de matar os pais de sua namorada de quatorze anos e fugir com ela por metade do país foi preso. Ambos vinham de famílias que praticavam a “educação em casa” cristã. Na verdade, os dois adolescentes fujões haviam se conhecido na primavera anterior em um evento de “educação em casa”. A garota de quatorze anos tinha uma página na internet onde falava sobre a participação em grupos de orações e de seu interesse em futebol e no cuidado de crianças. No momento do assassinato de seus pais, ela vestia uma camiseta que anunciava uma “banda de rock cristão”. O garoto de dezoito anos também tinha uma página na Internet na qual citava letras de uma “banda cristã” e discutia seu gosto por computadores, vôlei e caça.
É claro que as matérias da imprensa estavam cheias de depoimentos de amigos incrédulos. Uma colega afirmou sobre a menina: “Eu tinha a impressão de que ela era muito inteligente e ela era como uma amiga surpreendente. É muito cristã e eu jamais pensei que algo assim aconteceria”. Ela também chamou os pais falecidos de “as pessoas mais gentis que já conheci”. O pastor da família descreveu-os como pessoas boas que lidavam com os “típicos” problemas da adolescência. Um vizinho acrescentou: “Ela parecia ser uma garota americana típica, apenas uma doce criança da vizinhança”.
Os documentos do tribunal, no entanto, mostraram um cenário dramaticamente diferente. Os adolescentes “namoravam” há meio ano e estavam “envolvidos em relações íntimas contínuas e secretas”.
Além disso, eles “com freqüência se comunicavam por mensagens instantâneas e mensagens de texto pela Internet”. Sua comunicação incluía “mensagens de flerte” e também “imagens inapropriadas dos dois em diversos meios eletrônicos” como computadores e celulares.
Após sua prisão, o jovem confessou às autoridades os assassinatos. No ano seguinte, ele aceitou um acordo para evitar um julgamento com especificações de pena de morte. Foi sentenciado a duas penas de prisão perpétua.
Mais alguns meses se passaram e outra tragédia virou uma notícia de primeira página. Um pregador jovem e popular não compareceu nos cultos de sua congregação na metade da semana. Alguns poucos membros preocupados foram até sua casa e encontraram seu corpo. Havia um ferimento a bala em suas costas. No dia seguinte, a polícia de um estado vizinho encontrou a esposa e os três filhos do pastor, quando recém chegavam a um restaurante na caminhonete da família. A esposa, disse o policial, confessou o assassinato de seu marido. Ela havia atirado nele e depois fugido com as crianças, deixando-o morrer deitado em sua residência. Após a prisão, a esposa pediu a uma amiga da congregação que transmitisse aos membros suas desculpas pelo que tinha feito.
A congregação estava previsivelmente chocada. Eles cobriram um quadro de avisos no corredor com fotos da família sorridente. “Não há palavras que descrevam como nos sentimos sobre isso”, disse um membro, chamando a assassina acusada de “mãe perfeita, esposa perfeita”. O membro acrescentou: “As crianças eram preciosas, e ela era preciosa. Ele era um dos melhores ministros que já tivemos—super-carismático”.
Outro membro concordou. O ministro morto “tinha uma preocupação muito verdadeira em relação a salvar as almas das pessoas e inspirá-las a repensar seus hábitos”, contou ao jornal. “Era um excelente pregador, muito animado e encorajador. Você se sentia bem depois de seus sermões… Eles eram um bom casal—feliz”, afirmou.
O julgamento mostrou um cenário perturbador da vida doméstica deles. A esposa estava enredada em um esquema nigeriano fraudulento para recebimento de cheques que tentava esconder de seu marido. O marido foi retratado como crítico, autoritário e humilhador. A esposa foi condenada por homicídio voluntário, um veredicto comum em casos de abuso marital, e sentenciada a apenas dois meses na prisão, além do tempo que já havia cumprido desde sua apreensão.
Os membros da congregação recordaram o último sermão que seu ministro pregou, apenas três dias antes de sua morte. O assunto era “A família cristã”.
Todos concordarão que essas histórias são pungentes. Mas será que são pertinentes à nossa discussão? São evidências de que há algo fundamentalmente errado com o paradigma dominante na igreja cristã de nossos dias? Ou são apenas aberrações em um ambiente basicamente saudável? É justo mencioná-las aqui? Afinal, os cristãos há muito tempo sustentam que não têm uma porção justa na imprensa nacional.
Mas e se essas histórias forem pertinentes? E se forem apenas uma pequena ponta, ainda que altamente visível, de um enorme iceberg escondido de pecado, descrença e falta moral—o que Jesus chamaria de “fermento”? Não mencionamos essas tragédias para sermos negativos ou mesmo para julgar os envolvidos. Nós as mencionamos porque acreditamos muito sinceramente que desastres similares podem ser evitados. As soluções estão disponíveis. Mas não as procuraremos a menos que primeiro estejamos dispostos a dar uma olhada honesta e resoluta em nossa situação atual.
Considere “líder leigo” cujo vício na perversão violenta o levou a cometer crimes inomináveis. Certamente ele era uma aberração, um em uma centena de milhões. Não era? A resposta, infelizmente, é não. Embora os crimes que ele cometeu sejam incomuns a ponto de nos chocarem, os vícios pecaminosos que levaram aos crimes são muito, muito comuns.
Uma pesquisa11 recente perguntou a uma amostra representativa de americanos se eles viram voluntariamente imagens de pornografia explícita durante os sete dias anteriores. Entre os “não freqüentadores de igreja”, um em cada cinco admitiu ter visto. E entre os membros de igrejas? A mesma porção—um em cinco.
As estatísticas podem ser frias; podem parecer números em uma página. Então, por favor, permita que as implicações desse número se revelem. Da próxima vez que estiver em um culto religioso, olhe ao seu redor. Se a sua assembléia foi típica, um em cada cinco rostos que você vê terá visto pornografia pelo menos uma vez desde o culto da última semana. Entre as mulheres, a quantidade provavelmente é menor. Entre os homens, pode muito bem ser consideravelmente maior. Multiplique o que você vê por duas centenas de milhares de outras assembléias que se reúnem em todo o país. E pergunte a si mesmo: Qual é o custo, em termos de perda do poder e testemunho espiritual em nosso mundo? Qual é o custo, em termos da dor causada ao coração do Pai?
Tragicamente, o clero da nação não está isento dessa praga espiritual. Um evangelista de reputação internacional estimou que o percentual de pastores que participam de seus seminários e são viciados em pornografia também é de um em cinco.12
E o que dizer de adolescentes imorais, cujo pecado custa a vida de uma mãe e um pai? De novo, o crime, felizmente, é bem raro. Mas precisamos olhar além do crime e descobrir suas causas principais. Os pais da garota não morreram simplesmente dos tiros em suas cabeças. Eles morreram de um coquetel letal de venenos, incluindo, no mínimo: permissão para que adolescentes saiam em grupos ou pares sozinhos, sem supervisão e sem responsabilidade real; uso sem supervisão e abuso da Internet e da comunicação eletrônica; permissão para relacionamentos românticos entre jovens uma década antes de estarem realisticamente prontos para o casamento; criação de um ambiente no qual crianças disciplinam outras crianças; desunião e independência de todos, sem que nenhuma rede de segurança de relacionamentos diários se preocupe, faça perguntas, advirta, encoraje ou repreenda, trazendo a Palavra de Deus para estar de modo prático nas vidas; e confusão entre “escolhas de estilos de vida” externos de música e educação e escolhas internas de obediência e discipulado genuíno.
A difícil questão que devemos querer perguntar a nós mesmos neste momento é: quantos adolescentes, criados na igreja, têm vidas que podem ser caracterizadas por essa mesma lista?
Precisamos admitir que a maioria dos adolescentes da maioria das igrejas estão em um profundo problema espiritual. As estatísticas sobre esse ponto podem ser enganosas. Há uma probabilidade muito maior dos adolescentes participarem das atividades “baseadas na igreja” do que seus pais. Em toda a nação, seis em cada dez adolescentes freqüenta os cultos todas as semanas e um em cada três está envolvido em um grupo de jovens. Mas se você perguntar a esses adolescentes se planejam participar da igreja local depois de se tornarem independentes, apenas um em três têm intenção de permanecer envolvido. A maioria dos adolescentes que freqüentam as igrejas dizem que estão esperando apenas até saírem de casa para também saírem da igreja.13 E se verificarmos as taxas de freqüência entre os estudantes universitários e jovens adultos, as estatísticas mostram que a maioria desses adolescentes seguirá seus planos. Em seu encontro anual de 2002, o Southern Baptist Council on Family Life relatou que 88% dos filhos criados em lares evangélicos saíam da igreja com 18 anos ou em torno dessa idade. Por pelo menos duas gerações temos ouvido o clichê sobre filhos criados na igreja que freqüentam uma universidade secular e se afastam. Os filhos estão nos dizendo que entendemos tudo errado. Sem dúvida há muitos desafios à fé nas faculdades, bem como no local de trabalho. Mas na maioria do tempo, a idade de 18 anos é apenas o momento em que os filhos param de freqüentar. Tragicamente, já fazem anos que elas sucumbem às tentações da mundanidade e da descrença que destroem a fé e roubam o futuro.
Finalmente, o que dizer sobre a esposa do pastor acusada de abreviar a curta vida de seu marido com um revolver? Certamente o crime doméstico é uma anomalia trágica, não a norma nas congregações religiosas.
Concordamos que uma quantidade muito pequena de casamentos termina em homicídio, seja entre clérigos ou leigos ou pagãos. Porém milhões de casamentos terminam em um tribunal. Nos Estados Unidos, um quinto de todos os primeiros casamentos terminam em divórcio durante os primeiros cinco anos, e um terço termina durante os primeiros dez anos. Nada menos que 43% terminam em divórcio ou separação durante os primeiros quinze anos. Qualquer um que tenha experimentado um divórcio em sua família mais próxima ou testemunhado-o na vida de um amigo próximo pode testemunhar sobre a dor. O ferimento é excruciante no momento que ocorre e crônico durante os anos posteriores. Mesmo quando o divórcio parece inevitável, significa sofrimento para todos os envolvidos.
No entanto, aqui está outra tragédia: a taxa de divórcios daqueles que se consideram cristãos renascidos é idêntica à daqueles que percebem que jamais nasceram de novo.14 Espere um momento para absorver a importância desse fato. Vá a qualquer grande concentração de pessoas—por exemplo, um jogo de futebol. Coloque em um lado do estádio todos os que “assumiram um compromisso pessoal com Jesus Cristo que ainda é importante em suas vidas hoje”, que dizem que vão para o céu quando morrerem porque confessaram seus pecados e receberam Cristo como Salvador. Do outro lado do estádio, coloque todos os “cristãos nominais”, aqueles que estão incertos de suas crenças, que fazem parte de grupos heréticos marginais, todos os budistas e muçulmanos, todos os agnósticos e ateus. Depois, peça àqueles que se divorciaram que levantem as mãos.
O percentual de mãos levantadas será exatamente o mesmo em ambos os lados do estádio.
Mais uma vez, não estamos tentando ser críticos ou julgar nenhum indivíduo. Estamos apenas dizendo que os casamentos estão com problemas tanto dentro quanto fora da igreja. Essas estatísticas são verdadeiras, apesar de todos os sermões, seminários matrimoniais, organizações pararreligiosas pró-família, livros, fitas e aulas. Na maioria das assembléias de cada expressão denominacional ou não-denominacional do cristianismo nos Estados Unidos, um grande percentual dos casamentos e lares está com muitos, muitos problemas.
Não Precisa Ser Assim!
Vamos repetir: não estamos tentando criticar ou julgar. Estamos convencidos de que muitos cristãos praticantes, se não a maioria, envolvidos em pecados que entorpecem a alma e roubam o futuro desejariam se livrar deles. Gostaríamos de segurar essas pessoas firmemente pelos ombros, olhar em seus olhos e dizer que não precisa ser assim. Elas podem mudar. A igreja pode mudar.
Vivemos em um tempo onde nosso inimigo, satanás, fez incursões desastrosas em nossas comunidades, nossas assembléias, nossos lares e nossas vidas particulares. Repetimos: não precisa ser assim! Os casamentos não precisam terminar em mágoa; os filhos não precisam ser nocauteados pelo pecado e perdidos para o mundo aos milhões; o nome de Jesus não precisa ser arrastado na lama pelo escândalo e a vergonha. Os portões do inferno não prevalecerão sobre a igreja que Jesus edificará se nós O deixarmos fazer de Seu jeito. A Noiva de Cristo pode realmente se preparar para Seu retorno.
A mensagem desse escrito—e a mensagem do cristianismo como um tudo—não é negativa. Não é um não. É um sim. “Quantas forem as promessas feitas por Deus, tantas têm em Cristo o “sim” (2 Coríntios 1:20)! No entanto, jamais experimentaremos a riqueza e as bênçãos do futuro até que olhemos honestamente para o presente. Devemos avaliar o fruto daquilo que estamos fazendo atualmente. E devemos estar dispostos a colocar na mesa também nossos preconceitos e tendências, para que possam ser avaliados sob a luz da verdade de Deus.
Albert Einstein uma vez afirmou que a definição de insanidade é “fazer a mesma coisa dia após dia e esperar resultados diferentes”. Ousemos não ser culpados de tal loucura! O que fazemos deve mudar; o que somos deve mudar. Todas as ilusões de “paz, paz onde não há paz” devem mudar primeiro. Devemos rejeitar a auto-satisfação ou complacência.
Voltemos à nossa pesquisa de pastores, mencionando uma das próprias conclusões do pesquisador:
Quando os pastores descreveram sua noção de mudança significativa de vida motivada pela fé, a ampla maioria (mais de quatro em cada cinco) se concentrou na salvação, porém ignorou questões relacionadas ao estilo de vida ou à maturidade espiritual. O fato de que o estilo de vida da maioria dos adultos que fazem parte da igreja seja essencialmente indistinguível daquele das demais pessoas não preocupa a maior parte das igrejas; as pessoas aceitarem ou não Jesus Cristo como seu salvador é o único indicador, ou o principal, da “transformação da vida”, sem importar se sua vida após tal decisão produz frutos espirituais… É um pouco problemático ver que os pastores acham que estão fazendo um excelente trabalho quando a pesquisa revela que poucos congregados têm uma visão de mundo bíblica, que metade das pessoas atendida por eles não são espiritualmente seguras ou desenvolvidas, que os filhos estão se afastando da igreja em números recordes, que a maioria das pessoas que freqüentam os cultos admitem que não se conectam com Deus, que a taxa de divórcio entre os cristãos não é diferente do que a de não-cristãos, que apenas 2% dos próprios pastores consegue identificar a visão de Deus para o ministério que estão tentando liderar e que maior parte dos congregados passam mais tempo em um só dia assistindo televisão do que em todas as atividades espirituais da semana inteira. Os pastores, sozinhos, não podem ser responsabilizados pelo abandono espiritual da América. Porém é preocupante quando há uma forte correlação entre o tamanho da igreja e a auto-satisfação, pois isso sugere que os números de freqüência e de orçamento se tornaram nosso indicador de sucesso. É preocupante quando nossos líderes espirituais não conseguem articular para onde vamos e como a igreja cumprirá seu papel como agente restaurador de nossa sociedade. Talvez o conforto proporcionado por nossos imóveis e outras posses materiais tenha nos seduzido a pensar que avançamos mais na estrada do que na realidade.15
Podemos não ter todas as respostas. Mas podemos, pelo menos, começar admitindo que precisamos delas!
Jesus disse que em Seu Reino os bons ensinamentos produzem bons frutos. Se nossos ensinamentos em geral não o fizeram, precisamos fazer algumas mudanças de rumo. Não são necessárias doutrinas “novas” ou “exóticas”. As respostas não virão de alguma revelação extra-bíblica. A mensagem central do cristianismo sempre foi e sempre deverá ser “Cristo, e Ele crucificado”. Somos obrigados a “batalhar pela fé de uma vez por todas confiada aos santos”.
Não estamos defendendo novas doutrinas; estamos defendendo um compromisso renovado de seguir as instruções e o exemplo de Jesus e Seus apóstolos, conforme o registro do Novo Testamento. Leia esse precioso documento com novos olhos. Pergunte a si mesmo: qual foi o ponto inicial do ensinamento dos apóstolos, quando eles se aproximavam daqueles que estavam recém confrontados com as afirmações de Jesus? Qual era a ênfase de seus ensinamentos quando estavam instruindo os Cristãos sobre como crescer na fé? E qual era o contexto ou ambiente de seus ensinamentos? Insistimos que você explore as escrituras apostólicas por si mesmo. Talvez estas palavras o estimulem e orientem em sua busca!
1 Jones, D. E., S. Doty, C. Grammich, J. E. Horsch, R. Houseal, M. Lynn, J. P. Marcum, K. M. Sanchagrin, e R. H. Taylor. Religious Congregations and Membership in the United States 2000: An Enumeration by Region, State and County Based on Data Reported by 149 Religious Bodies, Glenmary Research Center, 2002 Back
2 Barna Update, 19 de junho de 2006 Back
3 Barna Update, 8 de janeiro de 2007 Back
4 Sócrates de Constantinopla, Historica Ecclesiastica Back
5 McMillan, B. R. “What do clergy do all week?” Relatório de Pesquisa da Pulpit & Pew. Durham: Duke Divinity School, 2002 Back
6 McMillan, B. R. e M. J. Price. How Much Should We Pay Our Pastor: A Fresh Look at Clergy Salaries in the 21st Century. Relatório de Pesquisa da Pulpit & Pew. Durham: Duke Divinity School, 2003. Back
7 DeNavas-Walt, C., R. W. Cleveland, e B. H. Webster, Jr. Income in the United States: 2002. U.S. Census Bureau, setembro de 2003. Back
8 Carroll, J. W. How Do Pastors Practice Leadership? Relatório de Pesquisa da Pulpit & Pew. Durham: Duke Divinity School, 2002 Back
9 Barna Update, 10 de julho de 2006 Back
10 The Barna Update, 10 de janeiro de 2006 Back
11 Barna Update, 22 de outubro de 2002 Back
12 David Wilkerson newsletter, 2006 Back
13 Barna update, 2 de janeiro de 2000 Back
14 Barna Update, 8 de setembro de 2004 Back
15 Barna Update, 17 de dezembro de 2002 Back