"É UM MAU SINAL"

1915

“É um Mau Sinal”

O policial não estava tão agitado quanto zangado. Ele não sabia o que Marco ou O Rato sabia. Algum menino comum se prendera em uma casa, e alguém teria que ir ao proprietário e pegar as chaves. Ele não tinha a intenção de se expor a lei arrombando uma casa particular com seu cassetete, como O Rato esperava.

― Ele entrou porque estava brincando por aí, e vai ter que esperar até que possa sair sem destruição de fechaduras. ― ele bradou ― sacudindo a porta. ― Como você entrou aí? ― ele gritou.

Não foi fácil para Marco explicar através de um buraco de fechadura que entrara para ajudar uma mulher que encontrara por acidente. O policial pensou que isso era mera conversa de menino. Quanto ao resto da história, Marco sabia que não poderia ser contada de modo algum sem dizer coisas que não poderiam ser explicadas para ninguém a não ser seu pai. Ele rapidamente decidiu-se que devia fazer acreditarem que fora trancado por algum estranho acidente. Devia-se supor que as pessoas não se lembraram, em sua pressa, que ele ainda não tinha deixado a casa.

Então o jovem empregado da imobiliária veio com as chaves e ficou muito perturbado e espantado depois de entrar. ― Eles partiram de repente. ― ele disse. ― Isso acontece de vez em quando, mas há alguma coisa estranha nisso. Para que eles trancaram essas portas do porão, e a da escada? O que eles lhe disseram? ― ele perguntou para Marco, fitando-o desconfiadamente.

― Eles disseram que foram obrigados a ir repentinamente. ― Marco respondeu.

― O que você estava fazendo no porão?

― O homem me levou para lá.

― E deixou você lá e disparou? Ele devia estar com pressa.

― A mulher disse que não tinham um momento a perder.

― O tornozelo dela deve ter sarado rapidamente. ― disse o homem jovem.

― Eu não sabia nada sobre eles. ― respondeu Marco. ― Eu nunca os vira antes.

― A polícia estava atrás deles. ― o homem jovem disse. ― É o que eu digo. Eles pagaram o aluguel de três meses antecipado, e só ficaram dois. Alguns desses espiões estrangeiros espreitando por Londres; isso é o que eles são.

O Rato não esperou até as chaves chegarem. Ele foi balançando em seu passo mais rápido pelas ruas de volta para Philibert Place nº 7. As pessoas viravam-se e fitavam sua face pálida e com frenesi enquanto ele passava quase como um tiro. Ele mal se permitia tomar o ar suficiente para falar quando atingiu a casa e bateu na porta com sua muleta para economizar tempo.

Loristan e Lázaro vieram atender. O Rato inclinou-se contra a porta ofegando. ― Ele foi achado! Ele está bem! ― ele arquejou. ― Alguém o trancou em uma casa e o deixou. Mandaram buscar as chaves. Eu vou voltar. Brandon Terrace, nº10.

Loristan e Lázaro trocaram olhares. Ambos estavam no momento tão pálidos quanto O Rato. ― Ajude-o a entrar na casa. ― disse Loristan para Lázaro. ― Ele deve ficar aqui e descansar. Nós vamos. ― O Rato sabia que isso era uma ordem. Ele não gostou, mas obedeceu.

― Isso é um mau sinal, Mestre. ― disse Lázaro, ao saírem juntos.

― Um sinal muito mau. ― respondeu Loristan.

O grupo se tornara uma pequena multidão quando eles atingiram a rua Brandon Terrace. Marco não conseguira deixar o local porque estava sendo questionado. Nem o policial nem o empregado da imobiliária parecia disposto a abandonar a ideia de que ele poderia dar-lhes alguma informação sobre o par fugitivo.

A entrada de Loristan produziu o efeito usual. O empregado levantou o chapéu, e o policial ficou ereto e fez continência. Nem um deles percebeu que as roupas do homem alto eram bem usadas e esfarrapadas. Eles sentiram apenas que uma pessoa importante estava diante deles, e que não era possível questionar seu absoluto ar de autoridade serena. Ele colocou sua mão no ombro de Marco e deixou lá ao falar. Quando Marco levantou os olhos até ele e sentiu a proximidade de seu toque, foi como um abraço – como se ele o puxasse para perto de seu coração.

― Meu filho não sabia nada sobre essas pessoas. ― ele disse. ― Isso eu posso garantir. Ele nunca vira nem um dos dois. Sua entrada na casa não foi resultado de travessuras infantis. Ele foi trancado nesse lugar por quase vinte e quatro horas e não comeu nada. Eu devo levá-lo para casa. Esse é meu endereço. ― ele entregou um cartão ao homem jovem.

Então eles foram para casa juntos, e durante todo o caminho para Philibert Place a mão firme de Loristan segurou bem perto o ombro do menino como se ele não suportasse deixá-lo ir. Mas no caminho eles disseram muito pouco.

― Pai, ― Marco disse, um tanto roucamente, assim que saíram da casa localizada no planalto. ― não sinto muito confortável em conversar na rua. Mas em primeiro lugar, estou tão feliz de estar com você de novo. Foi como se… isso pudesse terminar mal.

― Amado filho, ― Loristan disse em seu próprio samaviano. ― até que você esteja alimentado e descansado, não deve falar nada.

Mais tarde, quando voltou a si e foi permitido contar sua estranha história, Marco descobriu que seu pai e Lázaro haviam imediatamente suspeitado quando ele não voltara. Eles sabiam que nenhum acontecimento usual o teria mantido. Tinham certeza de que ele fora detido contra sua vontade, e também tinham certeza de que, se ele fora detido, seria por razões que já adivinhavam.

― Esse é o cartão que ela me deu. ― Marco disse, e entregou-o a Loristan. ― Ela disse que você se lembraria do nome.

Loristan olhou a inscrição com um meio-sorriso irônico. ― Nunca ouvi antes. ― ele respondeu. ― Ela não me mandaria um nome que eu conhecesse. Provavelmente nunca vi nenhum dos dois. Mas eu sei o trabalho que fazem. Eles são espiões dos Maranovitch, e suspeitam que eu sei alguma coisa sobre o Príncipe Perdido. Eles acreditavam que poderiam amedrontar você para que dissesse coisas que poderia ser uma dica. Homens e mulheres da classe deles usarão meios desesperados para alcançar um propósito.

― Poderiam eles… ter me deixado como ameaçaram? Marco perguntou-lhe.

― Eles dificilmente ousariam, eu acho. Um tumulto muito grande surgiria com a descoberta de tal crime. Muitos detetives seriam postos a trabalho para localizá-los. ― Mas a expressão nos olhos de seu pai enquanto falava, e a pressão da mão que ele estendia para tocá-lo, fizeram o coração de Marco vibrar. Ele ganhara um novo amor e uma nova confiança de seu pai. Quando se sentaram juntos e conversaram naquela noite, suas almas estavam mais perto uma da outra do que estiveram antes.

Eles se sentaram à luz do fogo, Marco no tapete gasto, e conversaram sobre Samávia – sobre a guerra e suas lutas sangrentas, e sobre como elas poderiam acabar.

― Você acha que algum dia poderemos não ser mais exilados? ― o menino disse ansiosamente. ― Você acha que poderemos ir para lá juntos – e vê-la – você e eu, Pai?

Houve um silêncio por algum tempo. Loristan olhou para as brasas que iam se apagando. ― Por anos – por anos meu coração tem almejado pelo dia. ― ele disse vagarosamente.

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