Roteiros em Direção a um Coração Puro
2001
Uma conversa de sala de estar, que começou em outra cidade e mais tarde foi transcrita aqui...
Pergunta: Meu filho quer tocar violão. Ele está fazendo aulas e já houve muitas frustrações. Ele tem encontrado muitas coisas que em si mesmas são verdadeiras parábolas do Reino, analogias claras, coisas que eu estou procurando ressaltar. Que tipo de conselho prático você tem para os adultos ou as crianças no que diz respeito a ajudá-las a não deixarem suas afeições se apegarem a tais coisas? Por exemplo... nós jogamos basquete juntos. Como é que a gente realmente mantém isso na direção da meta—um coração puro, resultado de uma fé sincera, sem uma consciência contaminada? É a mesma coisa com os negócios? Nós “trabalhamos com todo nosso coração”, mas não ENTREGAMOS nosso coração a isso?
Nada de Tradições
É sim, mas há outro pensamento que eu ainda acrescentaria nesse sentido, um que eu acredito ser bastante prático. É algo que tem a ver com um ensinamento de Jesus (citando Isaías) que apesar de ser muito precioso para nossos corações ainda ameaça se tornar uma grande armadilha para nós: as tradições dos homens anulam a Palavra de Deus. Uma tradição é alguma coisa tão repetitiva que traz junto uma expectativa. Uma tradição não precisa ser apenas coisas do tipo queimar incenso, borrifar água benta, ajoelhar-se ou ter imagens na parede. Uma tradição é: “Eu sempre calço o pé esquerdo antes do pé direito, e se eu não achar meus sapatos nessa ordem no armário vou ficar chateado.” Ou: “Eu sempre acordo a esta hora” ou então “Eu sempre venho aqui, eu sempre faço isto ...”
Houve uma época em minha vida em que passei uns dois anos e meio sem perder um dia de corrida sequer. Olhando para trás eu lembro que não importava quão tarde fosse, podia ser 11 da noite, eu simplesmente tinha que ir dar aquela corrida. Mesmo se tivesse passado o dia todo viajando, eu saía da rodovia, deixava um carro cheio de gente no acostamento e corria uns três quilômetros estrada acima e mais três de volta antes de sentar ao volante para dirigir mais um pouco. Eu fazia tudo isso só para não perder um dia de corrida. Havia algo de bom naquela disciplina, e você pode admirar isso nesse aspecto, mas olhando para trás eu vejo diferente. Em primeiro lugar, eu posso dizer que havia uma obsessão o suficiente de modo que eu encontrava identidade naquilo. E, em segundo, eu estava de alguma forma disposto a incomodar outras pessoas com aquilo. Em terceiro lugar, se as coisas não fossem como eu queria, na hora em que eu queria, eu ficava nervoso. Talvez tivesse autocontrole para aparentar ser espiritual, mas era como arrastar as unhas num quadro negro dentro do meu coração—“Eu tenho que correr, eu tenho que correr.” Aquilo era parte do meu coração. Aquilo era uma tradição dos homens.
Se você criou uma tradição do trajeto que toma para ir ao trabalho de manhã, pode ser que um dia você deixe de ser a primeira pessoa a chegar no local de um terrível acidente de trânsito já que não vai sair três quarteirões da sua rota porque você não quer escutar Deus. Você poderia ter sido o primeiro, poderia ter estado lá para falar com alguém sobre Jesus antes que morresse. Mas, “Nãããããoooo, eu sempre vou por esse caminho. É dezoito segundos mais rápido, portanto eu vou fazer do meu jeito.” Você não está escutando Deus. Essa tradição anula a voz de Deus. Como está tão bitolado e tão arraigado numa maneira confortável ou com a “melhor” maneira de fazer alguma coisa, você não consegue mais escutar Deus. Essa é uma tradição dos homens que anula a Palavra de Deus.
Deus É DEUS, Você Não é
Agora, voltando à questão que envolve nossos filhos... se tem uma coisa que precisamos fazer com nossos filhos, e com nós mesmos, é não deixar as coisas do mundo possuírem eles. De alguma maneira nós temos que ensinar nossos filhos que não há nada sagrado na vida, a não ser o Próprio Deus. Não existe nada que “tem de acontecer”. Não existe absolutamente qualquer coisa que tem de ser em seus horários, nenhuma coisa que tem de ter ou não ter—não existe nada que “tem de ser” em coisa alguma! “Oh, eu preciso ter minhas aulas de violão.” “Ah, precisa?! Você precisa ter suas aulas de violão?! Eu acho que não.” Quando escuto isso eu me lembro daquele desenho do Pepe Legal onde ele se veste de El Kabong e aplica uns “kabongs” com seu violão na cabeça dos amigos. “Entããão, você precisa ter suas aulas de violão, né?!” KABONG!! : ) Nós precisamos ser suficientemente iguais a Deus nesse sentido, Ele é muito desse jeito, para frear o ímpeto de nossos filhos quando for necessário. Eles devem entender que não existem absolutos. Não há nada que eles automaticamente têm de fazer. Não existe nada em que eles devem encontrar sua identidade, exceto por Deus, e eles não podem se agarrar em nada —NADA mesmo. Se não ensinarmos a eles esse princípio mandando-os vez ou outra assistir o jogo da arquibancada ao invés de serem escalados para o time principal, então nós os teremos iludido completamente a respeito do caráter de Deus. E eles vão cometer todos os erros que nós cometemos, e outros mais, porque nós ensinamos errado a eles. Nós deturpamos Deus para eles.
Deus não deixa a gente controlar nosso ambiente desse jeito. Se estamos prestando alguma atenção em DEUS, então você admite que não pode comprar uma casa só porque quer, não pode se manter num emprego só porque pensa que é bom o bastante e não pode construir um relacionamento só porque você se considera ser bonitinho e amável o suficiente. Você não pode fazer nada de si mesmo, e você sabe disso, se é que está próximo de Deus. Se não entende isso, você é um tolo, e é só uma questão de tempo até descobrir que é. Você precisa entender uma coisa: Deus não é seu co-piloto. Não é assim. Deus é DEUS, e você não é! Você é muito pequeno. Isso precisa estar bastante enraizado na gente para que estejamos prostrados diante dEle em nossos espíritos—às vezes fisicamente também, mas em nossos espíritos sempre. Estamos prostrados—“felizes os que são pobres de espírito”, deles é o reino. Isso é algo que podemos fazer com nossos filhos. Nós podemos assegurar que eles não estão no controle de nada. Podemos vigiar aquelas coisas que têm muita importância para eles. Se eles encontram sua identidade em alguma coisa que sempre fazem, que sempre precisam fazer, então nós precisamos ajudá-los a calibrar o pensamento nesse ponto. Se ficarem aborrecidos porque não podem ter ou fazer o que querem, então nós precisamos ajudá-los.
O que é que chateia uma pessoa? É aí que entra aquela coisa de “coração puro”, certo? Seu filho fica chateado porque não deu para ele jogar futebol? Ele fica chateado porque tem que ficar na reserva ou nas arquibancadas? Porque ele não vai tirar cara-e-coroa já que não é mais o capitão do time? Isso chateia ele (ou ela)? Isso mexe com o coração dele? Bom, ele vai ter sérios problemas quando outra pessoa conseguir uma promoção no lugar dele por motivos políticos no trabalho ou se acontecer alguma coisa que não for do gosto dele no âmbito de relacionamentos, escola ou de uma centena de outras coisas que você pode imaginar.
Nós os ensinamos errado porque deixamos as tradições dos homens anularem a Palavra de Deus. Alguma coisa que eles esperavam e possuíam capturou uma parte de seus corações. Eles não são puros de coração, e a culpa é nossa porque deixamos eles investirem seus corações e possuir alguma coisa por nossa falta de discernimento e nosso falso amor—que na verdade é para o nosso próprio ego.
Mole Demais???
Sabem por que às vezes eu sou mole demais? Por causa do meu próprio ego. Eu desejo que as pessoas gostem de mim, quero que meus filhos gostem de mim. Então foi por amor de mim mesmo que eu de fato não quis disciplinar meu filho, porque eu não quis partir seu coração pois isso partiria o meu coração. Eu não quis interferir com o que tem sido um relacionamento excepcionalmente maravilhoso nos últimos anos. Eu não queria impedir isso, mas no processo eu estava negando Deus. Eu estava negando a verdadeira definição de amor, violando a Palavra de Deus e quebrando a aliança com Deus. Eu estava violando todo tipo de coisas no Espírito com um falso amor e uma falsa misericórdia.
A melhor coisa que posso fazer por meus filhos é ensiná-los a não se deixarem escravizar por aquilo que chamaremos de as tradições dos homens. Não devemos transmitir a eles um ensino deturpado sobre o caráter e a natureza de Deus no mundo invisível. Se em meu próprio pensamento não há clareza sobre como crio meu filho, então eu vou permitir que ele se desvie do caminho do amor. Eu vou permitir que ele se desvie do caminho da vida que é verdadeiramente vida. Uma agenda cheia com todas aquelas coisas (aulas de violão, basquete, futebol, aula de arte) não é o problema. O problema é o quanto de nossos corações ou de seus corações nós permitimos se prender a essas coisas por deixar que as tradições dos homens criem raízes ali dentro. As expectativas, exigências e todas as coisas que “eu tenho o direito de fazer” são mortais para o coração deles. “É meu direito sair de carro com meus amigos.” Qualquer que seja a coisa—é mortal, é venenoso. Não tem leitura de versículo da Bíblia antes de dormir que consiga recuperar o tanto de seus corações que eles tiverem entregado por termos permitido isso, ensinando errado a eles. Você pode cantar músicas catorze horas por dia, mas se deixá-los entregar seus corações, se deixá-los se apegar e se abalar por coisas que são da terra, você vai prejudicá-los.
Nossos filhos vão dar pequenas pistas que retratam de forma bem clara aquilo em que estão começando a investir seus corações, e se nós deixarmos essas coisas passarem despercebidas eles irão se destruir e estragar suas vidas com Deus, sem nunca experimentá-Lo. Não terão nada além de religião. Eles vão querer ter um “ministério”, vão querer “fazer boas coisas para Deus”, vão querer “testemunhar”, no entanto eles nunca terão Deus nem o amor de Deus neles e através deles, pois entregaram aquele pedaço de seus corações. Eles entregaram aquele pedaço de suas consciências, e a entropia tomou conta de tudo.
Seja um Bom Líder
Devemos nos assegurar, por meio de nossa liderança, que não vamos deixar as tradições dos homens e as expectativas controlarem nossos filhos de maneira que eles fiquem abalados só porque não têm determinada coisa. Precisamos vigiar cada uma daquelas áreas nas vidas deles e nas vidas uns dos outros que nos deixam abalados se não temos algo que achamos que temos que ter. “Preciso tomar minha xícara de café pela manhã.” Nada contra o café, mas se alguém “precisa tomar sua xícara de café pela manhã”, isso é um ídolo. Isso tira Deus de Seu lugar, o coração da pessoa é impuro e ela se desviou do amor e da vida que são verdadeiramente amor e verdadeiramente vida. Se há qualquer outra coisa além da Palavra de Deus e das promessas de Deus em que nós estamos nos segurando—se não obtemos aquilo ficamos desapontados, de coração partido, decepcionados, nervosos ou deprimidos—então nós tiramos Deus de Seu lugar por entregar até mesmo uma pequena parte de nossos corações.
Pergunta: Você está dizendo que na prática é necessário testar para se descobrir onde o coração deles está?
É verdade que Deus vai mandar as oportunidades para que nós vejamos essas coisas em nossas vidas ou nas vidas de nossos filhos. Se começar a sentir cheiro de rato morto, você pode dizer: “Não vamos fazer isso. O que você acha? Esta semana nós não vamos fazer isso”, e depois espere para ver o que acontece. Ou então explique a situação a eles. A impressão errada que talvez alguém poderia ter é a de que se você faz alguma coisa mais do que duas vezes por semana, aquilo de repente vai capturar seu coração. Mesmo no caso do basquete, a pergunta é: se você joga todo dia, isso está tomando seu coração à medida que treina e se esforça ser bom no que está fazendo? Quer seja com golfe, basquete, futebol, negócios ou qualquer outra coisa—se você está realmente se esforçando para ser bom, pergunte a si mesmo se isso não está tomando seu coração. É algo que se deve vigiar muito: quanto mais uma pessoa faz uma coisa, maiores as chances de que aquilo vai roubar o coração dela. Nós conhecemos homens que são péssimos no futebol mas o jogo toma o coração deles. Também há aqueles homens que são bons no futebol e no entanto isso não toma nada de seus corações. O problema não é nem tanto a qualidade, ou quantidade de jogo, mas sim as questões do coração. Eu não quero dizer: “Bom, eu devo ser capaz de fazer isso o tempo todo porque meu coração não está dominado.” Bom, essa pode ser só mais outra desculpa quando na verdade a coisa já tomou conta seu coração. É algo que se deve tomar muito cuidado.
Construa Direito—Desde o Principio
Nós também precisamos ser diligentes em investir o tempo necessário para realmente CONSTRUIR os Caminhos e Princípios de Deus dentro de seus corações. Quando meu filho começou a jogar futebol, eu deixei umas coisas bem claras para ele. Eu me certifiquei de que ele entendeu que um jogo não deve dominar seu coração e que Jesus e Seu Reino devem sempre estar em primeiro lugar. Eu disse a ele que precisava ter obediência completa e uma ligação imediata todas as vezes. Antes que ele tivesse jogado sua primeira partida, nós tivemos uma conversa bem franca sobre como a coisa toda iria funcionar: “Estamos no final do campeonato... está no segundo tempo 1 x 1 e ... VOCÊ recebeu uma falta na área e foi escolhido para bater o pênalti... AGORA, se eu fizer um sinal para você dizendo que nós temos que ir embora, você vai passar pela grande área até às arquibancadas onde eu estou, e daí nós vamos embora! Se há um motivo do reino para fazer outra coisa, seu coração não pode estar tão preso ao jogo que você não possa simplesmente ir embora comigo. Seu coração não deve jamais estar tão envolvido naquilo tudo que você sequer diria: “Ah, pai! Não dá pra gente esperar, será que a gente pode esperar só mais um minuto, por favor...?” Eu espero submissão imediata. ‘Na terra como no céu.’ Do mesmo modo que Gabriel e Miguel e os anjos são com Deus, eu quero que você aja com essa rapidez quando eu chamar. E se não está preparado para fazer isso, então nós não vamos jogar este jogo. Se você não prometer a mim diante do céu e da terra que é assim que você vai lidar com isso no seu coração, então nós nem sequer vamos entrar no jogo. Essa é a única condição, o único terreno no qual nós vamos construir. Se você não acha que é forte o bastante para isso, então nós não vamos fazer isso. Não tenho interesse em ser irresponsável e pedir para você vir embora por nenhuma razão—especialmente quando o técnico fez todas as substituições. : ) MAS, se existir um motivo, e é bem provável que tenha, então eu espero que não haverá discussão—sem reclamações, sem desânimo, sem constrangimento. Seus olhos precisam estar em Deus, e se não consegue construir desse jeito então nós não vamos entrar nessa. Tudo bem?”
Esse tipo de conversa é uma boa maneira de iniciar o processo, seja com violão, futebol ou qualquer outra coisa. Precisamos nos certificar de que estamos construindo com isso em perspectiva antes mesmo de começar. E esse nosso acordo tem que valer desde o princípio, não é algo a ser acrescentado depois. Se tivermos que incluir isso depois porque fomos cegos quando começamos e não ajudamos nem colocamos eles nessa direção—então, tudo bem, vamos acrescentar isso depois. Mas agora que nós temos compreensão suficiente para fazer isso de antemão, nós devemos fazê-lo! Isso vai tornar as coisas mais fáceis para eles, ao invés de tornar as coisas desnecessariamente difíceis mais tarde, quando vierem as provas.
Deus vai arranjar as provas, com toda certeza. Mas quer seja freqüência ou habilidade, nada disso significa automaticamente que seu coração não está naquilo. Eu jamais esquecerei dos batismos de Tom e de Lynn porque eu estava no campo de golfe, quase no final do jogo e estava indo muito bem, quando recebi uma chamada no telefone celular. Aquilo foi uma prova. Essas coisas são provas para mostrar onde o nosso coração está. O que isso realmente significa? Se não estava indo bem—”Ei! Vamos embora! Vamos sair daqui.” Mas eu acho que Deus me pôs nessa para me testar. Deus cuida para que passemos por várias provas para garantir que não vamos sair da linha. Não foi assim tão automaticamente fácil, mas essas são as coisas que precisamos fazer para refinar nossos corações e ajudar uns aos outros a fazer o mesmo.
Pergunta: É esse o único mérito de coisas como aulas de violão, basquete, futebol e golfe? O mérito em deixar as crianças cultivar essas coisas está em que nós vamos encorajá-las a fazê-las realmente bem, e para Deus? O real valor está no caráter que se desenvolve, nos princípios do reino que aprendem e nas oportunidades para que seus corações sejam refinados?
Wow! Se a gente conseguisse captar só isso aí, não é mesmo? Existem milhares de coisas preciosas a se aprender com essas coisas, mas como um fim em si mesmas não há absolutamente nada de valor eterno. O processo de se engajar em alguma coisa fornece uma janela extremamente valiosa para dentro dos corações e almas deles. “Será que eu vou ter a auto-disciplina para lidar com isso adequadamente ao invés de ser negligente ou preguiçoso a respeito? Será que eu vou reagir bem quando as coisas não correrem da forma que eu espero?” Essas coisas são uma janela para dentro da alma. Elas permitem um processo de construção de caráter e de disciplina, elas criam oportunidades e relacionamentos com outras pessoas. Há uma janela para a alma de Deus, e portanto uma oportunidade de ver algo sobre quem Deus é neste processo de aprender o que “música” ou “competição” são de verdade. Existe uma infinidade de coisas possivelmente valiosas nisso tudo, mas como um fim em si mesmas, não há, obviamente, coisa alguma.
Não devemos permitir que nenhum de nós ou nossos filhos vejam tais coisas como um fim em si mesmas. Por que as outras pessoas se envolvem nestas coisas? Isso não vem ao caso! Vamos conversar sobre porque nós vamos ou não vamos fazer essas coisas. Existem pelo menos quatro ou cinco importantes razões pelas quais várias delas são bastante saudáveis de se fazer. Não se deve descartá-las como coisas desprovidas de sentido, futilidades materiais, mas pelos motivos corretos elas têm um significado incrível. É só que nós não podemos perder nosso rumo nem nosso foco no processo. Não podemos cair de amores pelo mundo e as coisas do mundo e perder Deus de vista no processo.
Pergunta: E no caso das crianças que não são muito ativas? Há algumas crianças que de fato não querem se envolver em coisa alguma, seja com violão ou qualquer tipo de atividade. Devemos realmente insistir com isso? Devemos estimular isso e tentar fazer com que elas se envolvem?
Se for um ponto fraco delas, se for uma coisa de caráter—elas vão precisar de ajuda, de um impulso para fora de si mesmas em direção às atividades. Uma coisa que alguns irmãos estão fazendo com alguns de nossos rapazes na faixa dos 6 a 8 anos é, basicamente, um campo de treinamento com diferentes formas de competição. Às vezes estão sentados numa mesa com palavras e números, outras vezes eles estão num campo com uma corda brincando de cabo-de-guerra. Somos especialmente vigilantes com aqueles que ainda não têm um coração para a batalha. Nós dizemos “Vamos! Força! Puxe” só para tentar ajudá-los a ver o que significa desenvolver uma atitude de lutar o bom combate, de correr a corrida para VENCER—não apenas para sobreviver. Se é algo que não é natural para eles, então precisam aprender alguns princípios básicos do que é entrar no Reino pela força. Se é natural, há algumas coisas do que se arrepender, e se não é natural, existem algumas coisas a serem incutidas dentro deles. Nós procuramos os pontos fracos, áreas de cegueira, áreas onde há falta de compromisso ou envolvimento. Nós procuramos passividade nesta ou naquela área. Se eles não têm alguma coisa que é do caráter de Deus, então nós queremos que eles tenham.
Um bom momento de começar é quando as crianças estão com mais ou menos seis anos de idade. Talvez seja violino ou um esporte em que eles não necessariamente demonstrem interesse, mas e daí? Há um lugar para isso. Quer eles gostem ou não da coisa, há um lugar para essa disciplina e esse aprendizado. Existe uma oportunidade para se estar debaixo de autoridade e para o gerenciamento do tempo... há um lugar para tudo isso. Não simplesmente no sentido empresarial de “gerenciamento do tempo” e “auto-disciplina”, mas só para dizer: “Eu vou esmurrar meu corpo. Eu vou me obrigar a fazer alguma coisa porque alguém que é importante para mim, alguém que eu amo, que tem autoridade sobre mim, me pediu para fazê-lo. É essa a minha motivação.” Isso é motivação suficiente. É algo que deve ser feito sem qualquer choradeira nem atitudes desagradáveis.
Uma Visão
Eu estava de viagem pela Carolina do Sul com alguns irmãos quando tive algo mais ou menos parecido com um sonho ou visão. Recordo-me das imagens em minha mente, mas não lembro de que forma elas apareceram. Conversei sobre isso com talvez uns 10 irmãos durante o jantar naquela noite. Parecia ser um sonho ou visão de algum tipo, bastante sonolento, no qual havia um jardim e uma variedade de plantas. Eu me lembro de ter muito pouco interesse por ele.
PORÉM alguma coisa muito séria aconteceu dentro de mim. Num determinado momento eu passei a nutrir um grande interesse por esse jardim e por essas plantas. Eu então me empenhei em cultivar e cuidar das plantas, e em aprender tudo o que me fosse possível aprender sobre tudo aquilo. Então em certo momento alguém me perguntou, “Por que é que você se importa tanto?” A resposta que eu dei à pessoa foi, “Porque Aquele que morreu se importa muito. É minha obrigação ter o mesmo coração por aquilo que Ele tem.”
Eu chorei quando isso aconteceu, não conseguia parar. Sinto meus olhos ficarem marejados enquanto estou contando isso outra vez neste momento. Lembro-me das lagrimas nos olhos à mesa do jantar quando estava na Carolina do Sul. Alguns dos irmãos vão se lembrar disso. Senti emoções bem fortes e fortaleci convicções para minha vida no momento desse sonho—e tenho procurado viver desse jeito desde então. “Ei, eu não me importo muito com esta planta. Esse negócio de jardinagem é muito difícil. Eu não sei nada sobre isso. Não sei se realmente me importo com isso—talvez nem seja meu problema de verdade. Afinal, o que é que eu posso fazer? Elas não são minhas plantas, e eu nem gosto de plantas tanto assim (não sou do tipo ‘jardineiro’). Além do mais, eu nem mesmo sei o que devo fazer”. De alguma maneira, porém, eu tinha que mudar minha opinião e meus esforços naquela direção. Era fundamental que eu investisse minhas emoções em assumir responsabilidade para fazer daquele jardim algo suntuoso, frutífero e seguro. Por quê? Porque Aquele que morreu e deixou esta plantinha e este jardim para mim como herança—ELE SE IMPORTA. ELE SE IMPORTA. ELE SE IMPORTA. É coisa dEle—e Ele confiou algo aos meus cuidados—portanto não é só uma questão de simplesmente “tolerar” aquilo. Devo me interessar emocionalmente tanto quanto Ele se interessa, e pagar seja qual for o preço que Ele pagou ou pagaria! E certamente a Sua Planta, Seu Jardim, não é algo que se deve negligenciar ou esquecer enquanto minhas afeições ou ocupações estão em outro lugar.
Afora tudo isso, o objetivo deste mandamento é amar com um amor que jorra de um coração puro. Ter um coração puro é ter a mesma afeição que Ele tem pelo objeto de Seu Amor, uma afeição não contaminada nem diluída por interesses e projetos “próprios”.
Então, eu me empenhei naquilo. Eu chorei muito sobre essas plantas e amei essas. De mim mesmo, eu achava que elas fossem bobas e desprezíveis, que não tivessem valor especial. E mesmo que tivessem algum valor, que fossem saborosas hortaliças frescas, eu jamais as teria provado. Vocês me conhecem. : ) Aquilo não tinha absolutamente nada a ver comigo—absolutamente nenhum interesse pessoal. Mesmo assim, eu fiz com que meu coração derramasse pelo jardim as mesmas lágrimas, sentisse a mesma alegria e o mesmo amor que sentia aquele que o tinha confiado a mim.
Sem dúvida, essa imagem que foi e é tão dramática para mim descreve o que tem sido e o que deve definir minha vida para Ele. Eu preciso renunciar à minha vida e às minhas emoções pelas pessoas que Ele escolher para mim dessa maneira—e por Sua Noiva, Sua Igreja visível, tal como ELE a define em Atos 2:42-47, Mt. 5:14, 16:18, Hb. 3:12-14, Ef. 3:10 e 5:27... sem aceitar nada menos que isso, jamais. Eu me pus a cultivar um amor e uma afeição em áreas que talvez não tenham necessariamente recebido isso desde o princípio, ou que teriam sido sufocados pela dor se eu o tivesse permitido. Mas já que vi como Ele vê Sua Planta e o Seu Jardim, eu tenho procurado colocar meu coração em total sintonia com todos os mesmos sentimentos que Ele tem.
Não há maior satisfação, nenhuma alegria maior do que essa neste mundo. É algo que de início parece ser caro, muito caro. Mas há um valor formidável em pagar o preço de amar, se importar e proteger a Planta e o Jardim dEle.
Você sabe como este sonho ou visão está ligado às crianças? Por exemplo, o caso do violino—“Eu odeio esse negócio! Não consigo fazer o som do violino! Mas como tem valor para VOCÊ, aquele que eu amo e que tem autoridade na minha vida, eu vou empenhar todo o meu coração nisso. Isso vai significar tudo para mim! Não porque tenha valor em si próprio, mas porque tem valor para você, então vai representar tudo para mim!” Esse é um coração puro, é isso que nós confiamos a nossos filhos. É para ter esse coração que nós os convidamos com o cabo-de-guerra ou a brincadeira de soletrar, ou com qualquer outra coisa que seja. Nós os chamamos para aquela veemência que existe num coração puro! Nós os ajudamos a separar entre o que eles têm vontade de fazer porque são bons naquilo ou porque têm vontade de fazer, e aquilo que eles podem fazer para aquele que os ama e que tem autoridade em suas vidas. Nós os ajudamos a chegarem até aquele lugar onde suas paixões estão unidas à paixão daquele que lhes dá a vida, ao invés de estarem ligadas às suas circunstâncias e ao que eles naturalmente têm desejo de fazer. Esse é um coração puro! Ter uma boa consciência é não violar isso. Uma fé sincera é ver isso da forma como Deus vê e viver desse modo sem hesitação.
Pergunta: E sobre as coisas que as crianças realmente QUEREM fazer? Você simplesmente aceita aquilo? Aos seis ou sete anos elas acham que querem realmente fazer uma coisa. Enquanto não perceber um motivo pelo qual eles não devem fazê-lo, você simplesmente entra naquilo com eles e ajuda-as a aprenderem com aquela experiência? Você simplesmente as deixa fazerem porque querem e porque você sabe que pode de alguma forma usar aquilo como uma ferramenta?
Eu não insistiria tanto em “só porque elas querem”, mas você pode ir vendo o que acontece conforme o desenrolar da coisa. Existirão limitações. Vai ter umas quatro coisas que elas vão querer fazer, e quando você perceber na prática a carga que aquelas quatro coisas vão colocar sobre você em termos de tempo, energia e despesas, você pode ver como isso vai o roubar alguma vitalidade. Isso vai roubar você de algumas oportunidades de apreciar e sentir o aroma das rosas de Deus porque está ocupado fazendo algo o tempo todo.
Você vai ter que pôr um freio em alguns dos desejos delas. Alguns destes desejos você vai ser capaz de apoiar; se bem que é preciso que até nestes desejos elas não agarram como sendo seus direitos. Elas precisam ser treinadas corretamente desde o princípio a não se apegar a qualquer que seja a coisa. Se elas talvez fazem algo que desejam, que mesmo assim elas não “sejam donos” daquilo. Aquilo é um privilégio—não é propriedade deles.
Você pode se guiar um pouco pelos desejos delas, mas há um ponto de sobrecarga, que é inaceitável! Além disso, mesmo quando você se deixa guiar um pouco pelo que estão fazendo, as crianças precisam a todo custo ser ensinadas de maneira clara sobre o valor daquilo que estão fazendo a partir da perspectiva do Reino. Por que elas estão fazendo isso? O que elas devem tentar encontrar nisso? Como elas devem ver a si próprias? Como elas devem encarar as autoridades em suas vidas? A sua perspectiva de trabalho... sua capacidade de largar a bola na pequena área, na frente do gol, e irem embora bem no meio da partida de futebol... elas precisam aprender logo do princípio a ver todas as coisas do jeito que Deus as vê.
É assim que precisamos construir. Precisamos ter certeza de que elas vêem as coisas de cabo a rabo pela perspectiva de Deus e de que nós não deixamos nenhuma margem para outras coisas. A tentação aqui é ignorar isso porque nós mesmos somos cegos (nós nem mesmo vemos isso) ou por pensar que simplesmente ignorar tudo e dar um tapinha nos ombros delas é ser “misericordioso”, “amável” e “carinhoso”. “Bem, olha, olha, olha ... tá tudo bem, meu queridinho.”
Não Deturpe o Caráter de Deus
A possibilidade de deturpar como Deus é e levá-los ao erro é grande. Essas são as únicas oportunidades que temos. A cada dia que passa eles estão ficando mais velhos, e quando você pára para ver—já se foi. Se fizerem escolhas ruins e começarem a ir na direção errada, há muito pouco que poderemos fazer, uma vez que a força viva se dirigir nessa direção. São nesses anos que precisamos ter certeza de que estamos mais sensíveis às pequenas coisas e os ajudamos a construírem da maneira certa com as coisas que lhes damos para fazer. Precisamos encarar isso dessa maneira. Não deve ser sobre um monte de coisas que eles estão nos pedindo para fazer, mas sim o que estamos dando a eles para fazer. Estamos administrando os recursos deles para eles. Estamos dando coisas para eles fazerem. Se não encararmos as coisas dessa maneira e deixamos que fiquem na frente enquanto nós tentamos dirigir do assento atrás, estaremos cometendo um erro que eles e nós vamos lamentar por muito tempo.
Você perguntou sobre as coisas que eles querem fazer. No caso do meu filho, eu sei que há coisas que ele deseja fazer que eu talvez permita que ele faça. Mas por outro lado também há coisas que ele talvez não teria imaginado fazer por si próprio que eu vou pedir-lhe que faça também. Quando se trata de coisas que eles têm desejo de fazer, o que geralmente acontece é que eles olham para elas através de lentes de otimismo exagerado. Quando tiverem de fato se envolvido com algo e descobrirem que levar essa coisa adiante talvez acabe sendo um pouco mais caro do que eles imaginaram que seria, pelo menos você pode recapitular e dizer, “Lembre-se, foi você quem quis fazer isso.” E exija aquilo deles, não deixe simplesmente que eles larguem tudo quando começar a ficar difícil. Você ao menos pode usar o fato de que eles disseram que queriam fazer aquilo. Quando for alguma coisa que eles não queriam fazer, você não pode chamar a atenção deles porque foi sua idéia que eles fizessem aquilo. Mas quando é idéia deles, e as coisas começarem a ficar difíceis e eles quiserem parar—aí você tem uma oportunidade nas mãos. E vai ser custoso. Qualquer coisa que vale à pena vai ser custosa. Eles provavelmente serão tentados a cair fora daquilo, e nós não devemos demonstrar simpatia carnal a ponto de deixá-los começar ou terminar alguma coisa dependendo do que eles pensam sobre aquilo num determinado dia da semana. Ajude-os a ter a disciplina de seguir adiante com alguma coisa mesmo se isso se mostrar um pouco mais difícil do que eles pensaram que seria no primeiro instante que se decidiram a fazê-lo.
O que parece é que eles vão ter prazer por qualquer coisa em que sejam bons. Eles vão começar com as melhores intenções, quer seja no futebol ou em qualquer outra coisa. E se forem naturalmente bons em algo logo de cara, então eles vão gostar, aproveitar e vão querer continuar fazendo aquilo. Mas se eles não forem bons naquilo—“Bem, eu não gosto de jogar bola.”
Eles precisam ter um coração para a batalha no que diz respeito à ética de trabalho. Isto é algo que ocorre com muita freqüência: quando uma pessoa não é boa em alguma coisa, ela imediatamente não quer fazer essa coisa. Para alguns o problema é leitura; já com outros é o esporte. Eles não vão dizer a você que não são bons naquilo, mas você sabe que essa é a razão por que eles não gostam daquilo. “Eu não gosto disso. É uma perda de tempo, desperdício de dinheiro. Porque alguém vai gostar disso?” Ensiná-los a ter uma boa ética de trabalho passa a ser uma lição vital numa situação como essa.
Como você aborda isso?
Eu acho que você sabe. É o tipo de coisa de que você fala quando vê. Você tenta chegar ao ponto essencial da questão. “Por que é que você realmente não gosta disso? Você está com vergonha? Será que é porque as pessoas estão observando e você acha que não está indo bem, e porque colocou seu ego nisso? Você compreende que essas são coisas que partem o coração de Deus. Nós não podemos ser dirigidos de qualquer forma por nossos egos, por medo dos homens ou qualquer coisa desse tipo. Você percebe alguma dessas coisas em seu próprio coração?” O processo de sensibilizar uns aos outros e nossas crianças para as coisas do coração é o que nos dá a capacidade de escutar Deus, interagir com Deus e obedecer Deus, e de nos arrependermos se não conseguimos enxergar a situação. Se algo é invisível para nós porque estamos estupefatos e desensibilizados, nós vamos simplesmente atravessar a vida com as prioridades dos homens e desperdiçar nossas vidas.
O simples processo de conversar sobre essas coisas já OS AJUDA. Sensibilizar um ao outro para os mistérios e assuntos do coração e convidar um ao outro para deixar Deus ser o padrão, em vez do modo como os homens raciocinam, é algo de valor incalculável. O simples fato de conversar já responde por 90% da solução. É claro, as crianças precisam mostrar um coração para a mudança e avaliarem as coisas da maneira de Deus. Elas precisam escolher a maneira de Deus e não a maneira dos homens. Essa é a parte delas, mas nossa parte é ajudar a sensibilizá-las para os assuntos do coração para os quais a maioria das pessoas está entorpecida demais para ver. Elas passam a vida toda construindo do jeito errado e nunca vêem isso.
Nós podemos ajudá-las. Podemos mostrar-lhes o caminho. Podemos fazer a diferença em suas vidas. Não deixem a oportunidade escapar. Nós podemos fazer isso através de nosso maravilhoso Senhor, JESUS!