"Criando Filhos para o Rei" Parte 2
2001
O Pai tem a última palavra em responsabilidade por nos disciplinar como Seus filhos, e isso também precisa ser respeitado em nossa unidade familiar. Outras pessoas disciplinando aleatoriamente os filhos de Deus é uma ofensa. Do mesmo modo, pessoas aleatoriamente disciplinando os filhos de uma outra família é uma transgressão. A razão por trás disso é que Deus deu aos pais a responsabilidade final. Ele deu a eles o ponto de compreensão fundamental para que as coisas carnais sejam purgadas. É muito fácil para alguém que não está ali com a criança, que não conhece seu caráter, quebrar o caniço rachado. Para alguém que não conhece qual a luta delas nem aquilo pelo qual já passaram, é fácil extinguir o pavio fumegante. Algumas crianças são frágeis, mas não parecem frágeis para alguém que não as conhece muito bem. Você pode entender da lei, mas talvez você não conheça a misericórdia e a graça nem como implantá-las.
Autoridade de Fazer Leis vs. Autoridade de Executar Leis
Há momentos em que Deus nos dá a capacidade de delegar responsabilidade para disciplinar Seus filhos. Está dito em Hebreus 13:17 que se deve obedecer aos líderes—aqueles que têm governo sobre vocês na igreja. Eles guardam as almas de vocês. Obedeçam-nos; tornem o trabalho deles confortável. Façam dele um prazer. Não há nenhuma vantagem se eles não tiverem plena alegria em seu trabalho. São vocês que vão sofrer. Obedeçam àqueles que têm governo sobre vocês. A implicação disso, como um contraste representativo de duas palavras, é que Deus tem toda a autoridade para fazer leis, a “última palavra em autoridade ou governo”, arche ou authenteo. Mas Ele confere exousia a Seu povo, que é a execução ou a faculdade de executar. Essa autoridade de executar leis Ele deu a Seu povo.
Assim, o chefe de estado maior das forças armadas é o diretor geral, o Presidente. Ele pode ir e pôr em prática, exousia. Porém é o Congresso, aqueles que são legisladores, que é o arche. Eles fazem as leis; o Presidente as põe em execução. É uma coisa de equilíbrio, de harmonia. Deus dá as leis; nós não as elaboramos. Deus faz todas as leis no céu e na terra. Todas as leis foram dadas por Ele. Não temos nenhum direito de criar leis novas, mas Deus nos conferiu autoridade. Contudo, essa autoridade é delegada. É uma autoridade executiva, para executar aquilo que Deus disse. É uma autoridade para ligar na terra aquilo que vemos ligado no céu, como Pedro falou. Isso também pode acontecer nas famílias.
Use Seus Recursos
Se eu der a você responsabilidade sobre meus filhos, eu posso dizer: “Crianças, eu dei a esta pessoa autoridade para ligar aquilo que ela sabe que já foi ligado nesta família, e para desligar aquilo que ela sabe que já foi desligado nesta família. Ela tem autoridade executiva. Eu deleguei a ela autoridade para pôr a disciplina em prática”. Mas cada caso é um caso. Não é uma coisa aleatória onde todo mundo pode sair e exercer essa autoridade a qualquer hora que bem entender. É algo que precisa vir da mente do legislador. E no microcosmo que é a família, isso deve vir dos pais em quem o arche, a autoridade legislativa, está investido. Os pais recebem sua autoridade legislativa de Deus. Os pais devem dizer à pessoa que está cuidando das crianças: “Aqui está o limite da autoridade que eu dei a você. Eu dou a você total autoridade para fazer o que quiser.” ou, “eu dou autoridade a você para disciplinar até este ponto.” ou, “eu dou autoridade a você para vigiá-los e para me contar as coisas, e eu vou aplicar toda a disciplina”.
O pai ou mãe precisa ser a pessoa que decide até que ponto essa autoridade é delegada aos que irão executar tal autoridade. É preciso haver esclarecimento em sua casa com seus filhos sobre até que ponto você deseja que outros executem a autoridade que você já criou, arche.
É do pai ou mãe a derradeira responsabilidade de utilizar todos os recursos para o fim de manifestar a lei do semear e colher, junto com uma expressão de graça. É preciso que essas duas coisas trabalhando juntas estejam claras. É preciso haver comunicação e visão do “quadro global”.
Tenha Discernimento, Mas Não Faça “Vista Grossa”
O que acontece em cada caso precisa ser definido em cada situação particular para cada família. Algumas crianças são caniços rachados que se partem facilmente. Outras têm tamanha obstinação e precisam que cada pessoa que aparecer em suas vidas tenha consistência com a disciplina deles, do mesmo jeito que os pais teriam. Algumas crianças precisam disso, já outras não suportariam tal coisa sem desmoronar por completo. Pais, tenham certeza de que vocês não irritem seus filhos, diz a Palavra de Deus. Não ultrapasse a linha, quebrando o caniço rachado. Na verdade isso não lhe dá uma resposta sobre o que fazer amanhã, mas pelo menos lhe dará um norte a seguir para descobrir qual a coisa certa, em cada caso.
Não sei se já alguma vez usei a vara com outra criança na igreja aqui. Talvez eu tenha, mas não me lembro de ter usado. Isso não seria necessariamente errado se os pais estabeleceram essa opção e depois então deram autoridade executiva para fazer assim. Isso pode ser perfeitamente aceitável. Mas o que estou dizendo é que no meu caso eu converso com elas quando tiverem violado algo que é evidente. Três vezes, no dia e meio que passou, eu me sentei com diferentes crianças e disse: “O que você fez viola a lei dos seus pais. Eu sei disso com certeza. Isso viola a lei de Deus, e não há a menor possibilidade de você se escapar dessa. Seus pecados vão encontrá-la e você precisa saber disso. Você precisa ver a lei de Deus e a justiça de Deus. Qualquer dia desses você vai admitir que existe um Messias, de quem você precisa desesperadamente por causa da corrupção de seu coração”. Eu simplesmente falo a elas sobre isso e aponto na direção do Messias. Talvez eu não as discipline, mas o que eu não vou fazer é vista grossa ao que aconteceu. Não posso ignorá-lo em meu filho nem no filho dos outros. Posso não ser a mão que aplica a vara, mas eu não vou fazer vista grossa. De um jeito ou de outro eu vou dizer aos pais da criança ou conversarei com ele cara a cara.
Às vezes eu sei muito bem que os pequeninos não entendem uma vírgula do que eu estou dizendo, mas eu não vou fazer vista grossa. Não posso fazer vista grossa com nenhum de vocês. E, é melhor vocês não fazerem vista grossa comigo. E também não vamos fazer vista grossa com nossas crianças! Mesmo aos dois anos não será cedo demais para ouvir sobre a promessa do Messias, Sua Redenção e a feliz esperança de Seu retorno. A criação que geme de expectativa está aguardando Sua volta. Os filhos de Deus aguardam para serem manifestos. Todas essas gloriosas coisas são coisas que até uma criança de dois anos não será demasiado jovem para começar a escutar. Elas podem começar a saber que existe ajuda—“Estou disciplinando você agora por causa da justiça, mas há esperança por causa de Jesus”.
Não Tem Filhos?
Paulo não foi pai, mas sem dúvida ele sabia muita coisa sobre criação de filhos. A razão por que ele sabia muito sobre criação de filhos é que ele conhecia Deus Pai e ele sabia como Deus Pai se relacionava com ele e como Deus Pai se relacionava com Jesus Cristo. Ele viu a multiforme sabedoria de Deus e Jesus e podia incorporá-la dentro de microcosmos. Ele sabia muita coisa sobre casamento porque ele conhecia muita coisa sobre Jesus e a Igreja, a Noiva de Cristo. Portanto você pode, por princípio espiritual, saber coisas que não tem condições de saber por experiência. De qualquer maneira, a maioria de nossas experiências são enganosas porque elas baseiam-se numa premissa defeituosa e em má formação. Será melhor se formos à fonte do entendimento do que se tivermos nossa própria experiência, que provavelmente é má experiência no final das contas. Existe esperança para o futuro.
Você É Guarda de Seu Irmão
A própria natureza do coração de Deus é que somos os guardas de nossos irmãos. Não é uma solicitação injusta da parte de qualquer um pedir aos outros que se envolvam ajudando a criar seus filhos. É JUSTO e BOM usar os recursos e presentes que Deus deu a você para ajudar na criação de seus filhos. As coisas que chamamos de frustrações (e vou dizer isto como alerta) às vezes dizemos: “Não entendo”, ou “Isso me deixa frustrado e não sei o que fazer”. Tenha muito cuidado para que não seja uma desculpa porque é preguiçoso demais para se envolver. Você não quer pensar sobre isso. Você não quer discernir o que está acontecendo, nem quer se envolver, não quer se incomodar, então opta por dizer: “Eu não sei o que fazer, nem como lidar com isso, então não me incomode”. Se disser isso muitas vezes ninguém vai querer que você cuide dos filhos deles, e aí você escapa da responsabilidade. Ninguém vai querer você por perto das crianças porque você não demonstra o caráter de Jesus e isso é má influência. Eis uma maneira de você não ser incomodado. Cuide bastante para que assuma sua responsabilidade diante de Deus com grande seriedade. Qualquer um que receba um destes pequenos por causa de Mim—recebe a Mim e recebe o Pai. Definitivamente isso é um indicativo e motivação para se envolver. Só dizer: “Eu não sei o que fazer” na verdade não elimina toda a questão de “se você NÃO recebê-los, você não recebe a Ele ou a Seu Pai”.
Mesmo se eu não tiver tanto conhecimento sobre tudo isso, minha responsabilidade de aprender mais, de crescer, e de pôr em prática aquilo que Deus me mostra, não está excluída. Não deixe que a falta de perfeita compreensão faça com que você pule fora em seus relacionamentos e das oportunidades que você tem de servir a Deus servindo a Seus filhos, grandes ou pequenos.
Pergunta: Você pode dar outro exemplo de como se envolver?
Havia uma família numa determinada cidade que, fisicamente falando, não tinha a menor condição de ter um filho. Aquela criança nunca deveria ter nascido. Fisicamente a mãe era estéril e não havia a menor esperança com relação a isso. Então, quando a criança nasceu, ficou seis minutos sem respirar! Tecnicamente tudo indicava que ele deveria ter sofrido danos no cérebro, mas mesmo assim não sofreu. Tudo em relação a esse nascimento era especial. Mas agora ele é uma dor de cabeça para os pais! Ele é muito teimoso. Você o pega e ele já está saindo antes que você o coloque nos braços. Ele simplesmente é assim—muito, muito egoísta. Ele ficava constantemente acordando durante a noite exigindo seus direitos, mesmo quando era bebê. Algumas crianças não são assim, mas ele era um caso sério.
Eu tinha dito à sua mãe (antes de ela perder um ano de sua vida) que o que ela precisava fazer era cuidar para que a criança tivesse as necessidades físicas satisfeitas, pôr ele no quarto, fechar a porta, e sair para passar tempo com Jesus. Porque se ela não fizesse isso, ela acabaria pagando um alto preço. E ele também. Ela pensa que o está servindo, mas no fim das contas o que ela realmente está fazendo é destruindo-o. Ela precisava aprender a deixá-lo chorar, mas não aprendeu a lição até muito tempo depois dessa situação. Ainda continua mais difícil para ela do que deveria ser, mas eu sei que isso é importante até para um bebê.
Eu só vejo essa família uma vez a cada três meses, mas um dia eu tomei coragem de perguntar à mãe: “Você confia em mim o bastante para me deixar fazer uma coisa?” Ela não sabia mais o que fazer, então falou: “Sim, vá em frente”. Aí eu pus o filho dela no meu colo (ele ainda era um bebê), o segurei, dei um beijo, e como era de se esperar depois de 15 segundos ele queria descer. Mas continuei segurando-o, falei com ele, e determinei por razão do princípio envolvido que eu não ia deixá-lo sair até que ele rendesse sua vontade. Ele foi ficando cada vez mais irado, e gritava muito! A mãe dele nunca tinha feito aquilo. Se fosse no meio da noite—pronto, lá ia ela. Tudo o que ele queria—ele conseguia. Isso destruiu a vida espiritual dela, ou no mínimo fez um tremendo estrago. Ela não conseguia orar, não conseguia ler a Bíblia, não conseguia compartilhar sua vida com ninguém mais. Às vezes ela nem podia se vestir antes das 2 horas da tarde! Ela ficou totalmente acabada porque ele era quem dominava a casa.
No dia em que o segurei eu sabia sem dúvida que sua fralda havia sido trocada, e que ele tinha sido alimentado. Eu sabia que ele não iria morrer e que todas as necessidades físicas dele tinham sido satisfeitas. Eu o segurei. E enquanto ele estava gritando, chorando, lutando e ficando vermelho igual a um pimentão—eu cantei para ele, abracei, beijei, e disse a ele que o amava. Isso durou 45 minutos. Eu ficava só cantando. : ) Ele sabia que eu o amava e que não havia qualquer ressentimento no meu coração. Cuidei para que ele soubesse disso. Não houve nenhuma cólera, nenhuma hostilidade, nem “ah seu pequeno tolo, como se atreve desse jeito”. Não houve nenhuma reação de minha parte, só amor. E aí, FINALMENTE, ele relaxou e sorriu para mim. Sabe o que eu fiz depois disso? Eu IMEDIATAMENTE o deixei descer. A questão é que eu não o deixei descer até que ele me entregasse sua vontade.
Nós passamos por isso várias vezes depois, com ele e com outros. O instante em que posso ceder é quando eles entregam suas vontades. Assim que a criança pára de ficar com raiva (ou ficou cansada demais para continuar com raiva), eu vou direto a ela e a abraço. Mas eu jamais vou satisfazer sua carne. Eu jamais vou ceder às demandas da carne. Não estou falando das verdadeiras necessidades físicas dela, mas da natureza carnal que exige seus direitos. Mesmo com um bebê isso faz uma diferença enorme.
Um Último Pensamento...
Se enxergar as crianças da maneira que estamos conversando for a vontade de Deus, então não é apenas necessário pôr em prática, mas também é uma responsabilidade e uma incumbência para ir em frente, multiplicar e encher a terra. Não apenas observar isso, não apenas reconhecer, nem simplesmente dizer amém, nem mesmo só fazer. Mas é a vontade do Senhor propagar isso porque somos embaixadores da reconciliação entre Deus e o homem, portanto fique de olhos abertos. Mantenha-os abertos para como poderá servir com a Palavra de Deus aos outros à sua volta à medida que os meses e anos vão passando. Se você é um filho de Deus, você é um sacerdote, e aquele que recebeu um depósito em confiança deve provar-se fiel.