Glossário
4/8/2005
Ao prepararmos esta história, pensamos que seria importante aprender sobre os costumes, o ambiente e o estilo de vida daqueles em Israel dois mil anos atrás. O que descobrimos nos ajudou muito a ver o mundo deles através dos olhos deles. Então, incluímos esse “glossário” para compartilhar com você as maneiras e eventos daqueles anos.
Caprinos
A cabra e o bode eram muito importantes para as famílias judias. Seu leite era usado para fazer manteiga, queijo e iogurte. Seu couro podia ser usado para fazer tendas e a lã para fazer roupas. Diferentemente de muitos animais, os caprinos sobrevivem bem tanto nas regiões montanhosas da Judéia quanto nos morros da Galiléia. Eles são resistentes a condições precárias e se alimentam de quase todos os tipos de plantas ou arbustos.
Carpintaria
Como todas as profissões nos tempos Bíblicos, a carpintaria geralmente era um negócio familiar. O pai e seus filhos, que eram assistentes até que tivessem mais experiência, manejavam o negócio juntos. Desde pequenos, eles sabiam como usar as várias ferramentas e frequentemente ajudavam seu pai no trabalho. Fazendeiros dependiam de carpinteiros para fazer jugos para seus animais e todas as pessoas precisavam de mesas, batentes, bancos, cadeiras e muitas outras coisas do dia-a-dia. Os carpinteiros eram artesãos respeitados e frequentemente usavam um cavaco de madeira atrás da orelha para indicar orgulhosamente sua profissão. As ferramentas que o carpinteiro usava frequentemente eram a enxó (similar a um machado), a sovela, o malho e o serrote.
Casa
Na Galiléia, a maioria das estruturas era feita de basalto preto, pedra ou blocos de barro curados no sol. Havia poucas janelas na casa, o que resultava em um ambiente escuro e quente. As paredes eram grossas para isolamento. Vãos nas paredes eram usados como local de armazenagem. O quarto principal da casa tinha um chão com dois níveis: o nível mais baixo de barro batido e uma plataforma de pedra. (O chão podia também ser feito de barro, pedra ou calhau e emboço.) Animais circulavam pelo nível mais baixo onde muitas vezes a comida era preparada. Era no nível mais alto onde se dormia e comia. A parte de dentro da casa tinha poucos móveis e famílias pobres dormiam em esteiras e sentavam-se no chão. Casas mais pobres tinham poucos quartos, somente um pátio (em vez de dois ou três) e a entrada da casa geralmente dava para o pátio. A casa que fora da família por gerações era grande, com quartos sendo adicionados conforme o crescimento da família. Por isso, muitas casas tinham quartos organizados como um labirinto.
Casamentos
Os casamentos na antiga Israel eram tempos de grande celebração e alegria. As festividades frequentemente duravam por sete dias, durante os quais os convidados consumiam grandes quantidades de comida e bebida. Havia música rítmica e dança vívida. As danças começavam com somente a noiva e o noivo dançando, e então todos os outros seguiam. A noiva e o noivo eram tratados como rainha e rei, e os casamentos eram freqüentemente caros e pródigos.
Coletores de impostos
Os coletores de impostos judaicos, também chamados de publicanos, eram desprezados por seu próprio povo. Eles eram postos no mesmo nível de escravos pagãos, ladrões e assassinos e eram considerados impuros porque se misturaram com os gentios e trabalhavam no Sabá. Os publicanos eram livres para coletar tanto quanto pudessem e frequentemente cobravam muito, de forma que podiam forrar seus próprios bolsos com o dinheiro extra. Os impostos eram baseados na renda da família e no valor de sua propriedade. As caravanas eram taxadas de acordo com os bens que carregavam, e cada homem com idade entre quatorze e sessenta e cinco anos deveria pagar uma taxa anual.
Comida
As pessoas comiam basicamente os mesmos alimentos nas refeições todos os dias. Lentilhas, figos, peixe, tâmaras e derivados de leite eram comuns, e feijão, pepinos, uvas, ameixas, maçãs e mel também eram disponíveis para alguns. Sal, extraído de Magdã, era usado amplamente como conservante. Comiam carne somente em ocasiões especiais, com a exceção de peixe, que era tipicamente comido todos os dias. O pão era o “feijão com arroz” deles. Em alguns dias, como nos Sabás, os judeus eram proibidos de comer pão feito com fermento. Vinho diluído era uma bebida comum porque a água muitas vezes era suja, mesmo quando tirada do poço.
Educação escolar
Era exigido da maior parte dos meninos entre as idades de seis e treze anos que frequentassem a escola na sinagoga todo dia, exceto no Sabá. Eles se reuniam na sinagoga de manhã cedo para serem ensinados pelo grandemente respeitado rabi da cidade. Os meninos se sentavam num semicírculo no chão à frente do rabi, que ritmicamente recitava passagem das escrituras em hebraico para que repetissem. Usualmente, o hebraico era a única língua usada na classe, em oposição ao comumente falado aramaico. No esforço de aprender de cor essas passagens, os jovens as copiavam em placas cobertas com cera, usando um osso apontado ou um instrumento de metal pontudo como utensílio para a escrita. Uma vez que a criança dominasse o alfabeto hebraico e passagens mais curtas, seria permitido que copiasse lições mais longas em pergaminho com verdadeiras canetas de penas mergulhadas em tinta. No meio do dia, as crianças paravam para comer seus almoços que haviam trazido consigo. Muitos jovens amavam estudar a Palavra de Deus. O sonho de infância de muitos era se tornar um sábio e um homem da lei.
Estações e tempo de colheita
Dois meses de colheita [de oliva]
Dois meses de plantação [grãos]
Dois meses de plantação tardia,
Os meses de capinar o linho
O mês de colheita de cevada
O mês de colheita e armazenamento
Dois meses de cuidar da vinha,
O mês de frutas de verão.
O cultivo e a colheita nos tempos de Jesus dependiam totalmente das estações. Os verões eram quentes e secos durante o dia, embora frios à noite. O inverno era chuvoso e muito frio, especialmente em altos planaltos e nas montanhas. Em algumas partes de Israel, como Jerusalém, podia ocasionalmente nevar até abril.
Os grãos eram a principal fonte de sustento. O trigo era a safra mais importante e era plantado durante as chuvas de outono. A colheita ocorria alguns meses depois. Painço e linho eram também cultivados durante esse ciclo. O painço era usado para alimentação animal, e o linho era uma importante safra comercial, usada para fabricar o tecido de linho. Depois da colheita de trigo, o fazendeiro voltava sua atenção às vinhas e às árvores frutíferas. Uvas, figos e olivas eram todos frutas comuns, colhidas na primavera.
A Estrada para Jerusalém
O judeus viajando da Galiléia para Jerusalém geralmente tomavam o caminho que ia na direção sul beirando o rio Jordão. Quando chegavam ao final do rio, viajavam para o oeste, subindo o morro até Jerusalém. A cidade se localizava numa região consideravelmente alta nas Montanhas Judéias. O caminho em que possivelmente viajavam pode ser visto no mapa ao lado. A viagem cobria aproximadamente 885 km e provavelmente demorava três a quatro semanas para terminar.
Mar da Galiléia
O que é conhecido como o Mar da Galiléia na verdade teve uma variedade de nomes. Mas do que quer que fosse chamado, como Lago de Tiberíades, Mar de Ben-Hadade, Lago de Genesaré ou outros nomes desconhecidos, o que esse lago de água doce trazia à mente da maioria das pessoas era peixe. Esse lago era um dos locais mais produtivos para a pescaria em Israel, com mais de 230 barcos de pesca diariamente. Embarcações romanas maiores também usavam o lago para transportar tropas e suprimentos para diferentes áreas da Galiléia. Entre as muitas variedades de peixes encontradas nas águas, as mais comuns eram a tilápia e a sardinha de água doce. A indústria próspera era sustentada por pelo menos nove cidades e inúmeras povoações. O lago atinge seu ponto mais fundo com 47 metros, se estendendo por aproximadamente 22 quilômetros, e tendo largura de 13 quilômetros (em seu ponto mais amplo).
Mercadores e Feira
A feira era montada perto dos portões da cidade. Era um lugar barulhento com animais berrando e zurrando e pessoas gritando e negociando. Geralmente, o comprador oferecia a metade do preço que pretendia pagar e o vendedor pedia o dobro do preço que esperava obter. Sendo que não havia um jeito de guardar comida por um longo tempo, as mulheres iam para a feira todos os dias e compravam somente o que precisavam para aquele dia. O dia antes do Sabá era o grande dia de feira, quando pessoas compravam o que precisavam para o próximo dia.
Mercadores podiam ser mercantes locais que vendiam mercadorias no mesmo local todos os dias ou podiam ser pessoas que viajavam para comprar mercadorias para trazer de volta e vender em Israel. Eles eram praticamente os únicos que viajavam para fora de Israel. Os mercadores eram algumas vezes trapaceiros e usavam pesos e medidas desonestos. Esses homens podiam cobrar demais das pessoas por suas mercadorias e assim ficar muito ricos.
Messias
O Messias era O Prometido, antes profetizado, que seria enviado por Deus para restaurar Israel. Muitos Israelitas estavam esperando um rei majestoso que derrotaria os romanos. Quando Jesus veio sem beleza ou majestade, muitos não acreditaram que Ele era o Messias porque parecia tão real e humano. Eles estavam esperando um rei que expulsaria os romanos e aqui estava seu Rei: humilde e montado num jumentinho.
Ocupação Romana
Roma governava e ocupava Israel nos dias de Jesus. Os romanos eram odiados pelos judeus por muitas razões. A primeira era que os judeus ressentiam-se de serem governados e tributados por pagãos que adoravam uma miríade de falsos deuses. A segunda era que a maioria dos romanos eram cruéis aos povos conquistados que recusavam a submeter-se à forma de seu governo. Se um romano pedisse a um judeu para fazer qualquer coisa por qualquer razão, não era opção recusar. Um dos ensinamentos de Jesus difícil dos judeus aceitarem era, “Se [um romano] pedir-lhe para levar um fardo por uma milha, o carregue por duas milhas”. Esse amor aos seus inimigos era escandaloso para muitos judeus naqueles tempos.
Guarnições romanas eram bem comuns pela Galiléia, a província mais perturbadora de Israel. Cafarnaum, localizada na extremidade norte do Mar da Galiléia, estava numa posição geograficamente chave e tinha uma guarnição de soldados. É estimado que até 600 soldados romanos se situavam ali por um tempo. Isso logicamente deu um impacto e complicou as vidas dos judeus que moravam em Cafarnaum, causando muito ressentimento à presença dos romanos.
Mesmo que os romanos fossem desprezados, um centurião em Cafarnaum era um homem temente a Deus e que respeitava os judeus. Ele construiu a sinagoga de Cafarnaum, a qual hoje existe em ruínas.
Papel da mulher
As tarefas da mulher judia se centravam em sua casa. Seu dia começava com o nascer do sol e durava o dia todo até o cair da noite. A cada manhã e cada noite, as mulheres se juntavam no poço e coletavam água fresca para suas famílias. Combustível precisava ser coletado para assar o pão. O piso da casa precisava ser varrido constantemente. A lã precisava ser fiada, os fios transformados em tecido, e o tecido transformado em roupa. A conservação das roupas era também muito importante porque poucas pessoas tinham mudas de roupas nos tempos de Jesus, então as mulheres estavam continuamente consertando-as e remendando-as. O coalho deveria ser feito do leite de cabra. A comida precisava ser juntada, e as refeições preparadas. O principal trabalho de uma mulher era fazer pão, o que ela fazia de três a quatro vezes por dia. Para fazer pão, as mulheres tinham de moer o próprio grão, que era trigo para as classes superiores e cevada para as pessoas comuns.
Páscoa
Todo ano, milhares de Judeus iam para Jerusalém para celebrar um festival chamado Páscoa. Era uma celebração de como Deus libertara os Israelitas da escravidão no Egito. O festival começava no décimo quinto dia do mês Hebraico Nisan. A palavra “Páscoa” vem do evento Bíblico da décima praga que Deus enviou sobre o Egito por ter retido os Israelitas em cativeiro. Deus matou o filho primogênito de cada casa egípcia mas passou sobre as casas dos Israelitas que tinham sangue nos batentes das portas. A palavra “Páscoa” também se refere à passagem dos Israelitas da Escravidão para a liberdade.
Pátio
O pátio, encontrado em qualquer casa, desde a moradia do fazendeiro mais pobre até a do oficial mais rico, era uma das mais importantes partes da casa. Rodeado por meia parede e algumas vezes compartilhado por várias outras famílias, o pátio era o centro da maior parte das atividades das famílias. O espaço aberto tinha preferência sobre o interior escuro e muitas vezes insuportavelmente quente. Era comum haver no pátio um lugar de fazer fogo, um forno, um rebolo, um jardim e grandes vasos pois era o local para o preparo da comida. Também havia um pequeno abrigo para os animais da família (ovelhas ou cabras), e, em Cafarnaum, também se guardava os equipamentos de pesca. Sobretudo era o local onde a família se reunia para tarefas domésticas e celebrações.
Pesca
A pesca no Mar da Galiléia era uma indústria importante e produzia uma colheita rica mas levava longas e duras horas muitas vezes da tarde até de manhã cedinho. O equipamento consistia em redes de malhas diferentes, cestos para colocar a pesca, uma âncora de pedra, tochas para atrair peixes, comida e jarros de água, cordas extras e remos para dirigir o barco. A pesca realizava-se geralmente à noite porque a luz do sol assustava os peixes para as partes mais fundas do lago. A maior parte da noite de pescaria era gasta abaixando redes em um lugar e depois remando para abaixar as redes outra vez. Os peixes eram então puxados para dentro do barco e separados. Consertar as redes tomava a maior parte do tempo de um pescador em que ele não estava realmente pescando. Os reparos eram feitos em redes que ele mesmo fizera.
Duas redes comumente usadas no Mar da Galiléia eram a rede de mão e a rede de cerco. A rede de mão era circular de malha apertada com pesos no perímetro. Era jogada com um movimento giratório grande sobre as águas rasas. Ao cair, adquiria um formato côncavo debaixo da água, que pegava os peixes. Para trazer os peixes, os pescadores o fechavam dando um puxão num cordão preso no centro. A rede de cerco, de 5 metros e meio de largura e vários metros de comprimento (no lado aberto), tinha pesos em um lado e cortiça no outro. Era ideal para usar entre dois barcos. Era pendurada das bóias e segurada para baixo com chumbos.
Poço
O poço era um local visitado freqüentemente por mulheres na Israel do primeiro século. A necessidade de água fresca era frequente (não havia modo de manter grandes quantidades de água livres de contaminação), de forma que o poço era um local de ajuntamento natural para as mulheres por todo o dia. Elas levavam grandes jarros de barro para colocar a água, mas a água era retirada com um balde de couro mantido no poço. O poço era sempre no centro da cidade, de forma que era facilmente acessado por todos os residentes.
Quipá
(hebraico, kipá, “cúpula”, “abóbada” ou “arco”)
É um pequeno chapéu em forma de circunferência, semelhante ao solidéu, utilizada pelos judeus. solidéu
Sabá
O Sabá era o dia judaico de descanso. O início do Sabá era anunciado por três toques de shofar (um chifre de carneiro) do teto do templo ou da sinagoga quando era vista a primeira estrela da noite de sexta-feira. O fim do Sabá era sinalizado na noite de sábado novamente por três toques de shofar. Havia trinta e nove atividades que contrariavam a lei se realizadas no Sabá, como acender fogo de qualquer tipo e andar mais que certa distância. No dia antes do Sabá, conhecido como o “dia da preparação”, havia muito trabalho a ser feito. As três refeições para o próximo dia tinham de ser preparadas, água suficiente para o dia seguinte tinha de ser retirada do poço, e as lamparinas deviam ser aprontadas. Próximo da noite, as pessoas colocavam de lado seu trabalho e se vestiam com roupas limpas. A noite de sexta-feira era um tempo de alegria, oração, gratidão e adoração.
Tear
Já nos tempos de Jesus, um tear grande fora desenvolvido, que permitia ser feita vestes de uma só peça de tecido; até este ponto, duas peças de tecido tinham que ser costuradas juntas para ser grande suficiente para as vestes. Este tear tinha que ser manejado por duas pessoas, uma jogando a lançadeira e a outra manuseando os fios. Por causa da maneira que o tecido era tecido e confeccionado em roupas, as listras em roupas sempre eram verticais. As vestes eram vendidas nas feiras sem a abertura da cabeça para provar que eram novas. O cliente, então, ajustava a gola ao tamanho que desejasse e, se fosse para uma mulher, ela bordava decorações coloridas. Muitas pessoas mais pobres, porém, teciam suas próprias roupas em teares em casa.
Terraço
O terraço plano das casas era construído com vigas fortes, cobertas por uma rede de galhos e emboçado com barro. Um rolo era mantido no terraço para compactar a superfície depois que chuvas pesadas o transformassem numa lama densa. Os terraços sempre vazavam e durante a estação chuvosa (de novembro a março, em nosso calendário) adquiriam uma tonalidade verde por causa das pequenas plantas que germinavam na lama. Em noites quentes, o terraço servia como quarto de dormir alternativo. Durante o dia, entretanto, era um lugar comum para todo tipo de atividades. Frutas e grãos eram postos para secar no terraço. O uso dessa área era tão comum que a lei judaica requeria que fosse construído um parapeito ao longo da borda de forma que ninguém se machucasse por uma queda.
Vestes
As vestes durante o primeiro século eram muito similares às usadas nos dias de Abraão. Eram simples, funcionais e altamente estimadas. Somente os de altos cargos e os bem de vida tinham mais de um conjunto de roupa. Pessoas das classes média e baixa vestiam as mesmas roupas a semana inteira e só se lavavam no dia antes do Sabá. Tecido de lã, o traje típico era uma túnica (até o tornozelo para mulheres e um pouco mais curto para os homens). Uma capa (ou manto) cobria a túnica e o conjunto era segurado junto levemente por um cinto. De acordo com a tradição, cada ponta do manto tinha uma borla, que era para relembrar as pessoas das leis de Deus. O capuz, uma peça adicional, variava muito. O azul normalmente era usado só por mulheres. Escarlate e púrpura, sendo corantes caros, eram reservados para as vestes dos ricos.