Clarear do Dia

14/1/2005

Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas,

e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a

uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o

dia clareie e a Estrela da Alva nasça no coração de vocês.

2 Pedro 1:19

Cafarnaum estava acordando. Era a hora preferida de Ashira, a cidade no limiar entre a calma da noite e a agitação que surgia com o fluir cotidiano de um dia de trabalho. Ela correu rapidamente pelas ruas sinuosas de terra batida. Apesar das ruas emaranhadas frequentemente confundir recém-chegados, Ashira achou seu caminho com facilidade, tendo vivido nesse pequeno e fértil canto da Galiléia todos os seus quinze anos. Sua amiga, mais velha por um ano, andava com passos curtos e rápidos atrás dela com dificuldade.—Pera aí, Ashira!—Elizabete chamou, rindo. De repente ela parou—Ashira!

Ashira reapareceu de uma esquina na rua. Em sua pressa, o pano que segurava seu cabelo deslizou e um monte de cachos escuros e esvoaçados agora moldava o perfil distinto de sua face—O que foi?

—Onde está sua jarra?

Ashira riu, algo que fazia frequentemente, e olhou para suas mãos vazias.—Ai, Ai! Esqueci completamente! Estava com muita pressa saindo de casa hoje de manhã!

Elizabete, que era cuidadosa e responsável, olhou para ela surpresa por um momento—Não tem por que voltar. Estamos quase chegando à quadra do poço. Eu trouxe dois jarros e você pode usar um.—Ashira desamarrou um jarro das costas de Elizabete e levantou-o no seu próprio ombro. Ziguezagueando de novo pelo labirinto de ruas, elas foram à direita, à esquerda, e depois à esquerda de novo. No cruzamento de várias ruas, Elizabete parou e apontou para a rua adiante—Esdras avisou que agora tem mais soldados romanos naquela direção. É melhor a gente tomar outro caminho.

Ashira acenou com a cabeça e elas passaram por uma ruela sombreada. Em pouco tempo, o caminho curvado terminou no largo central do poço. As meninas cumprimentaram pelo nome as várias outras mulheres já reunidas lá, e entraram na conversa alegre enquanto cada uma esperava, com jarros nas mãos, sua vez de usar a corda e o balde.

Enquanto o balde de couro desaparecia nas sombras do poço, Ashira inclinou-se sobre as pedras e deixou os nós da corda deslizarem ritmicamente pelos seus dedos. Ela levantou sua cabeça, examinando o céu que escurecia.

—Oh! Elizabete, olhe!—Ela cutucou sua amiga, e as duas observaram enquanto o ar se enchia com o tagarelar de centenas de pássaros. As formas em silhuetas mergulharam sobre as casas aglomeradas e pintadas com cal, assustando um par de cabritos em um pátio ali perto. Em seguida, o bando virou-se e se reduziu a uma linha no horizonte em cima dos morros no norte. Ashira soltou sua respiração devagar, seus olhos marrons fixos no céu vazio.

—Elizabete, você não tem vontade de ser um pássaro?—ela perguntou.

Elizabete fitou seu olhar em sua amiga com olhos arregalados—E-Eu não sei—ela gaguejou.—Acho que nunca pensei nisso antes.

—Um bom dia para vocês, meninas—disse a tia de Elizabete ao se aproximar do poço com seu jarro, seus brincos tinindo.

Com o som da voz de Ziva, Ashira perdeu sua força na corda que estava puxando para cima. O balde cheio caiu causando um estardalhaço quando bateu na água abaixo. Suspirando, ela começou a puxar o balde para cima novamente.—Oi, Ziva—ela forçou-se a dizer, mas não amigavelmente.

—Seu pai está no Jordão de novo, não está, Ashira?—Ziva questionou. A mulher de olhos vigilantes parecia sempre saber, de maneira misteriosa, exatamente o que todo mundo em Cafarnaum estava fazendo.

Ashira acenou com a cabeça—Estamos esperando sua volta hoje, a qualquer momento.

Ziva balançou sua cabeça desaprovando—É uma pena que você perdeu seu tio para o Batizador e seu bando. E agora seu próprio pai, também.

Ashira sentiu uma dor intensa quando seus dentes fecharam sobre sua língua fortemente. Ziva falava como se os homens estivessem os abandonando imprudentemente… a mulher não poderia estar mais errada. “Tio André está com o Batizador porque ele sabe que João fala a Verdade”, pensou. Ashira sentira o destemor das palavras de João nas conversas que teve com seu pai e com seu tio. Ela sabia que era o puro desejo de ver Deus honrado que tinha atraído André para longe de sua casa e do seu negócio para estar mais perto do Batizador. Seu pai realmente sentia a responsabilidade de sustentar sua família e somente saía por tempos curtos. “Se abba alguma vez ficar por muito tempo…” ela engoliu o nó que surgiu na sua garganta com o pensamento.

Mas ela apenas disse—Vamos ver. Muitos pensam que as palavras do Profeta são importantes e confiáveis, uma luz bem-vinda no nosso mundo escuro.

Os olhos de Ziva semicerraram-se—Ummf!—ela agarrou a corda e o balde e abaixou-os.

Elizabete disse baixinho—Precisamos ir agora, tia. Hoje de manhã Ashira e eu vamos trabalhar no tear juntas.

Ziva endireitou-se—Ah, vão é? Vou passar lá daqui a pouco e checar como estão. O tear é muito bom, deixado por sua mãe. Elizabete, não devem brincar com ele.

—Ashira! Ashira!—uma voz alta ecoou nas paredes. O rosto fechado de Ashira mudou para um sorriso aliviado quando seu irmão menor, Ezequiel, apareceu de uma esquina correndo.

—Você está aí! Eu preciso ir para a sinagoga, mas vim falar para você que…

—Para a sinagoga!? Olhe suas roupas e seu rosto! Escuta aqui, você precisa aprender a se lavar no lago antes de sair das margens. Você não pode ir para a sinagoga assim.—Ashira aproximou-se apressadamente do menino ofegante. Ela jogou água nas mãos dele e no seu rosto e esfregou a sujeira. Vigorosamente ela escovou seu manto listrado e sua quipá, reclamando—Puxa Ezequiel! Sei que é filho de pescador, mas você não pode ir à escola cheirando como peixe!

Ziva riu pro lado—Esse seu irmãozinho não é exatamente a imagem do seu irmão mais velho, hein?

Ashira riu—Ezequiel? Sim… ele é muito diferente de Jerede!—Ela ficou em pé, endireitou a quipá de Ezequiel e alisou seu cabelo indomável, estalando sua língua.—Bem, acho que é o melhor que posso fazer. Agora corra para a sinagoga!

—Mas Ashira, eu vim falar que o pai voltou pouco tempo atrás. Ele estava querendo saber onde você está.

O rosto de Ashira iluminou-se—Elizabete, vamos lá! Meu abba está em casa! Obrigada, Ezequiel. Agora corra e não perca tempo no caminho. Tchau Ziva.—ela desapareceu pelas ruas com passos apressados.

—Ashira, sua água!—Elizabete chamou.

Ashira voltou ao poço com passos pesados, recolheu seu jarro e desapareceu de novo, chamando sua amiga para segui-la. Elizabete correu da forma mais elegante que conseguia, seguindo a trilha de água derramada.

As sandálias de Ashira batiam no chão enquanto ela ia ziguezagueando pelas ruas familiares. Um pouco adiante ela viu um vislumbre da casa. Era simples, como a maioria das outras estruturas nessa parte da cidade, mas grande o suficiente para os dez membros da família. O portão no muro cercando o pátio rangeu quando ela o abriu. Com passos largos ela chegou aos grandes vasos de água perto da porta dos fundos e derramou sua água em um deles. Elizabete parou atrás de Ashira, respirando fortemente—Desculpe pelo que Ziva disse, Ashira. Você está bem?

Ashira encostou-se na parede da casa e acenou com a cabeça—Eu acho que sim. Eu só não consigo entender como Ziva pode ter tão pouco respeito por João. Ele é um profeta. Eu sei que ele é!

—Você sabe que Ziva está amargurada sobre muitas coisas. Nem sempre o que ela fala faz muito sentido—Elizabete pausou.—Bem, meu pai está me esperando em casa. Até daqui a pouco!—levantando seus jarros, Elizabete saiu pelo portão.

—Tchau!—Ashira falou.

Ela inclinou-se para levantar um cesto de comida e uma vasilha de couro com vinho que tinha preparado antes, na esperança da volta de seu pai. Saindo de novo, ela agora direcionou seus passos rápidos ao morro abaixo pelo caminho do lago. Gradualmente, as casas ao seu redor tornaram-se mais espaçadas. Ela subiu o morro pequeno que descia para a água e, alcançando seu cume, parou dando um pequeno passo para trás. O campo caiu aos seus pés como um manto, coberto de anêmonas vermelhas até onde a vista pôde alcançar. Eram lindas em contraste com a beirada de pedras esbranquiçadas onde a água lambia as margens. Ela encheu seus pulmões com o ar doce, cheio do aroma de flores na primavera e de água do lago. O sol espiava ao leste na extremidade do mar sombreado, jogando cores douradas em todas as direções. No sul, os morros de Gerasa radiavam roxos. Com os olhos da sua mente conseguia ver os vilarejos aninhados nas margens distantes. Em algum lugar naquela direção estava Magadã. Mais para as margens no oeste estava Tiberíades, a nova cidade romana em que nem um Judeu entrava. No lado oposto do lago estava Gergesa e bem perto estava a pequena Betsaida. No lado extremo sul do lago e descendo o rio estaria Betânia, onde seu pai tinha passado vários dos últimos dias. Ele fazia viagens ao Jordão frequentemente agora.

Pequenas vozes atrás de Ashira chamaram sua atenção, então ela virou-se. Duas meninas saíram correndo de entre as casas, suas roupas batendo na brisa: Rebeca, com nove anos, que era prática e agia como se fosse muitos anos mais velha do que realmente era, seguida pela pequena Kitra com olhos brilhantes, faladora, mas sempre se escondendo atrás das saias de suas irmãs quando perto de estranhos.

Kitra implorou, em um irresistível linguajar de cinco anos—Posso ir com você pra vê abba? Mamãe dexô se vamos com você.

—Claro.—Ashira agachou-se e sorriu, dizendo—Vamos fazer uma corrida até o lago! Um-dois-três… Já!

Suas duas irmãs gritaram e se lançaram correndo para descer o morro, seus braços jogados para trás. Ashira correu atrás delas, habilmente balançando o cesto no seu quadril. Elas alcançaram a água e os barulhos de uma manhã típica nas margens de Cafarnaum enchiam seus ouvidos. Homens gritavam um para o outro enquanto trabalhavam. Alguns remendavam velas, outros separavam os peixes em cestos. As meninas andaram nas pontas dos pés ao redor de várias armações com redes deixadas no sol para secar. Várias fogueiras estavam acesas e chamas brilhavam nas escamas de dezenas de peixes alinhados em espetos. Fumaça cheirosa pairava momentaneamente no ar e então desaparecia com o ar fresco e úmido do lago. Ashira chamou por abba, mas sua voz desapareceu no tumulto. Ela procurou no grupo de barcos. Alguns tinham sido arrastados para as margens e outros balançavam na água, ancorados com pedras pesadas.

Ela se dirigiu a uma embarcação familiar e à figura esbelta em pé na popa—Oi, Jerede!

O menino de dezessete anos e de estatura média tirou um cacho fino de cabelo escuro e suado de sua testa igualmente suada e deu um sorrisinho para sua irmã. Ashira sempre ficava chocada ao ver seu irmão, geralmente arrumado e pensativo, tão suado e sujo depois de uma pescaria.

—Como foi a viagem?—ela perguntou, inclinando-se para frente para observar a pilha de pesca que ele jogava para dentro de cestos largos.

Ele resmungou e pulou do barco levantando o cesto pesado para seu ombro—O tempo com o Batizador foi excelente e até um pouco mais curto do que gostaríamos. Suas palavras têm uma maneira de cativar pessoas. Sua energia penetra na sua mente como se não fosse dele! Suas palavras são estranhas, e às vezes difíceis de entender—Jerede pausou e deu um suspiro.—Mas nos últimos dias nós temos pescado perto de Magadã e… bem, você sabe como pescaria geralmente vai para mim—ele levantou sua cabeça e olhou longe para o outro lado da lagoa, imóvel.

Com um movimento rápido, ela jogou um inesperado jato de água fresca no seu irmão. Ele chacoalhou a cabeça e olhou para ela em choque por um momento.—É bom ter você por perto, irmãzinha!—ele riu, mas ela evitou seu espirro de água de volta com um salto em direção às pedras.

Uma voz forte e familiar soou atrás deles—Minha Shira!—A figura larga de seu pai apareceu detrás de uma nuvem de fumaça. As mãos de Kitra abraçavam seu pescoço enquanto ela andava nas costas dele e a pequena mão de Rebeca estava embrulhada na sua mão enorme.

—Abba!—Ashira correu para seu enorme abraço. Ela notou o cheiro familiar de água doce e peixe nas suas roupas úmidas e no seu cabelo embaraçado. Ela olhou para sua face rústica e sorriu—Eu trouxe algo gostoso para você comer!—Simão aceitou a comida ansiosamente e mordeu um pequeno pão com um som de satisfação.

—Jerede!—ele gritou, olhando por cima de seu ombro.—Põe mais lenha nessa fogueira!—Ashira tirou a vasilha de couro com vinho de seus ombros e o ofereceu a ele, junto com o queijo e um punhado de amêndoas. Ele jogou suas mãos pro alto como se estivesse surpreso—Seu nome significa “próspera” e isso você é, Shira! Olhe! Você me trouxe um banquete!—Os dois deram gargalhadas e enquanto ele se agachava as duas meninas menores saíram correndo dando risadinhas. Ashira sentou ao seu lado, colocando seu queixo nos joelhos. Ele comeu várias bocadas e limpou a boca com a parte de trás de sua mão.

—Aperte aquela corda na pedra de ancoragem, Jerede! Seu nó está escorregando.—Em voz baixa, Simão murmurou exasperado—O que vou fazer com esse menino?!

Ashira abaixou sua cabeça. Por que sempre era dessa maneira? Ela amava seu irmão. Ele era tudo que ela não era: quieto, prático, sensato e estável. E seu pai, ela parara havia muito tempo de tentar colocar em palavras sua adoração por ele. Ela gostaria de poder explicar para alguém como seu abba era—a vida da família, uma desajeitada chama de paixão ardente, ele raramente pensava sobre algo por muito tempo antes de entrar de cabeça naquilo. De uma maneira muito alegre, ele era quase louco. A proximidade que Ashira tinha com esses dois tornava a constante tensão entre seu pai e Jerede muito mais dolorosa para ela. Mas o que ela podia fazer?

—Ei, Simão!

Ashira levantou os olhos quando Tiago chamou de um barco perto.—Onde tá aquela pesca de trezentos que prometeu pra gente?—ele disse dando um sorrisinho e apontando para os cestos de peixes que Jerede tinha cuidadosamente colocado na margem.

Simão abanou seu dedo a Tiago brincando—Só espere, meu amigo. Se André e seu irmão, João, chegarem aqui antes das chuvas, nós vamos pescar de monte. Espere, e você vai ver!

Ashira riu. Era exatamente como seu pai tentar fazer o impossível.—Quantos foram dessa vez, abba?

—Apesar de Tiago estar desapontado, foi uma boa pesca. Eu contei oitenta e sete.

Ashira fincou seus dedos do pé no solo pedregulhento—Você viu tio André e João quando foi para o Jordão?

Simão deu um pequeno sorriso—Sim eu vi eles… estão ainda pensando e ponderando e fazendo perguntas para o Profeta.

Ashira abriu sua boca, mas Simão a interrompeu—E você quer saber mais do Batizador?

Ela acenou com a cabeça.

Ele inclinou-se para frente ansiosamente—As multidões são grandes… mais e mais estão sendo batizados.

—Como você, André e os outros foram.

Simão concordou pensativo—Mas o profeta João fica dizendo de novo e de novo que está vindo outro depois dele. Ele disse que está vindo alguém que não vai batizar com água, mas com o Espírito Santo e fogo—Simão colocou ênfase na última palavra.—Do que você acha que ele está falando, Ashira? Não consigo entender tudo isso. Quando eu estava em Betânia, ele disse que alguém que não conhecemos está entre nós. João disse: “Não sou digno nem de desamarrar suas sandálias”.

—Abba, você acha que Ele realmente está aqui em Israel?

—Eu nunca encontrei um Homem assim, Shira, mas deve ser verdade, todos esses sinais e a profecia de João. O Messias está aqui. Ele está vivo. Nós só não sabemos onde ou quando vamos achar Ele.

—Você pode me falar de novo o que aconteceu, foi trinta anos atrás?

—Sim. Foi no ano do censo e vários acontecimentos estranhos mexeram com os corações ou pelo menos com as conversas das pessoas. Tinha uma grande estrela, nunca vista antes ou desde então, que brilhava no céu. Alguns dizem que foi só um boato, mas alguns pastores perto de Belém espalharam o conto de uma criança que nasceu naquele tempo. Um anjo, eles disseram, tinha prometido que esse era o Salvador. E aí tem as velhas profecias. A música que sua avó canta, das palavras de Isaias, é uma.

Ashira a conhecia bem e repetiu as palavras.

Um menino nasceu,

Um filho foi dado a você

E o mundo inteiro está debaixo do Seu reino.

Escutem! Quando Ele vir, você O chamará de:

Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte,

Pai Eterno, Príncipe da Paz.

A extensão de Seu reino

E o aumento de Sua paz

Não terão fim.

Ele sentará no trono de Davi

e reinará sobre Seu reino,

O construindo sob um alicerce firme

E o sustentando

Com sabedoria, justiça e retidão.

Além do tempo, ao passar reis e nações,

Mesmo que ascendam e caiam

Sua Casa vai ser para sempre.

O zelo do Senhor Poderoso

Vai fazer com que isso aconteça.

Tudo ficou quieto por alguns momentos. Tiago gritou alguma coisa sobre salgar os peixes e Simão ficou em pé—Shira, você pode dizer à sua mãe que eu vou terminar antes do meio-dia. Daqui a pouco posso voltar para casa.

Ashira sorriu enquanto acenava. Ela bem sabia que depois de uma pesca bem sucedida “antes do meio-dia” queria dizer perto do por do sol.

Indo em direção a Tiago, Simão secamente deu mais instruções para Jerede—Tire os peixes do barco e depois remende a rede que você rasgou.

Um movimento rápido no canto dos olhos de Ashira chamou sua atenção. Um homem corria pela margem na direção deles. Ela rapidamente ficou em pé e fixou seus olhos na figura que se aproximava.

—Tio André!—ela gritou surpresa.

Simão virou rapidamente—Pequeno irmão! O que está fazendo aqui?

André parou repentinamente, ofegando—Simão! Nós O achamos!

—Quem? Do que está falando?

—O Messias, Simão! O nome dele é Jesus. Esse homem deve ser o Messias!

Simão respirou fortemente e piscou seus olhos várias vezes, como se estivesse sem ar—O quê?

André se esforçou para puxar o ar—Simão, quando João O batizou, ele disse que viu o Espírito, como uma pomba, descer e ficar nEle. Depois, quando viu o homem de novo, João chamou Ele de Cordeiro de Deus. Aí ele virou para nós e disse: “Esse é o homem de quem eu tenho falado para vocês por tanto tempo. Eu tenho batizado para que Ele seja revelado.” Você vai vir comigo?—André suplicou.

—André, já fiquei fora de casa por muito tempo!

Ashira olhou para seu pai. Sua voz estava cheia de responsabilidade e com uma medida de hesitação, mas ela percebeu nos seus olhos uma faísca de fervor.

—Você precisa conhecer ele, Simão. Eu gastei um tempo com Ele e eu… vem…! Você precisa conhecer ele pessoalmente!

Simão virou-se e gritou—Jerede, cuide dos peixes. Asse os grandes e separe alguns dos menores para o mercado.

Com isso, ele correu pela margem atrás de André na direção de Betsaida.

Ashira os observava, sem fôlego—Mas, abba…

Simão parou e virou para encará-la—Não se preocupe, Shira—ele gritou.—Fale para sua mãe que vou voltar logo, talvez em poucos dias.—O sorriso que apareceu no seu rosto derreteu a incerteza dela em um instante. Depois ele se foi.

A voz confusa de Jerede ressoou do barco na margem atrás dela—Ashira, o que aconteceu? Para onde o pai está indo?

Ashira tentou achar palavras, gritando de volta para seu irmão—Ele… ele foi… para o, é, Jordão! Ele foi para ver… será que é Ele?!!

—O que você quer dizer?! Quem?—ele disse.

Ashira podia ver seu rosto confuso, mas ela ainda estava pasmada com o que ouvira.

—Ah, Jerede!—ela riu, sem poder respondê-lo.—Eu preciso ir falar para a mãe o que aconteceu! Levantando suas vestes, ela foi salteando até o topo do morro. Seus pensamentos giravam com excitamento. “O Messias, possivelmente aqui? Agora? Depois de tantos anos… pode ser? Na minha vida?!”

Ela praticamente voou pelas ruas, virando esquinas correndo o mais rápido que suas pernas podiam levá-la. Ela pediu desculpas apressadamente quando colidiu com um vendedor indo ao mercado. Finalmente, a casa estava perto. Ela entrou pelo portão da frente—Mãe! Abba se foi de novo!

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